sexta-feira, 29 de julho de 2011

Uma salada a saber a férias


O dia chegou ... finalmente! A sensação é de liberdade e descanso. Mesmo assim, já comecei a fazer planos e listas sobre o que quero fazer nas minhas férias. O tempo passa a correr. Ainda não fiz nada e já tenho a sensação que não vai chegar para tudo.

Antes de começar a dizer o que já ando a planear ler, que filmes ver, etc., quis comemorar a minha entrada em férias com uma salada ligeira, simples e apetitosa de atum com feijão branco.


Ingredientes:
70g de folhas de alface e rúcula
1/2 pimento vermelho assado
1/2 pimento verde assado
1 cebola roxa
3 tomates chucha
300g de feijão branco cozido
2 latas de atum
0,5 dl de azeite
2 colheres de sopa de vinagre de vinho branco
sal e pimenta preta de moinho q.b


1. Numa taça juntar as folhas de alface e rúcula, os pimentos assados cortados em pequenas tiras, a cebola cortada às rodelas, o tomate cortado, o feijão cozido, as latas de atum previamente escorridas.

2. Temperar com sal, pimenta, vinagre e azeite a gosto. Mexer e servir.


Esta salada, como quase grande parte das minhas saladas, foi feita com os ingredientes que tinha cá em casa. E não é que soube muito bem?!

[ Published in English as A salad with a zest of vacations ]

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Um encontro com amigos


A vinda do nosso amigo Nuno a Portugal teve como consequência a marcação de vários encontros. No passado sábado fomos até Casais de Além, localidade junto da Batalha, para um grande almoço que reuniu amigos do clube de Comida & Fotografia.

Este clube, há mais de uma década que funciona informalmente, ou seja, aceita membros que gostem de comida e fotografia. Talvez mais de comida do que que fotografia, isto segundo algumas opiniões. E com esse pretexto têm-se vindo a organizar reuniões em vários sítios do país. Eu e o Ricardo fomos a vários desses encontros precisamente pela mão do nosso amigo Nuno Santos. Lembro-me muito bem do fim-de-semana que passámos no Sabugueiro e a partir daí explorámos a zona da Serra da Estrela - nunca me lembro de comer tanto queijo da Serra e presunto! - e de passar um frio danado porque alguém se lembrou de ir fotografar as estrelas à noite! Lembro-me também do encontro no Porto com francesinhas, pequeno-almoço na Foz, um restaurante fantástico em Matosinhos - de que já não me lembro o nome - e o passeio pela zona da , com as suas ruas estreitas. Houve também um passeio por Lisboa e Sintra. Nestes encontros falhei a ida a Montesinho. Neste clube conheci o Ricardo Abranches e a Paula, o Hugo Silva - o nosso simpático anfitrião neste almoço - o Fabrício Santos, o Ricardo Janeiro, o Pedro Frazão e mais recentemente a Marisa. Este almoço reuniu todos estes amigos, o Nuno Vaz e a Graciete, e agora naturalmente, com a presença de várias crianças - futuros grandes fotógrafos - que depois do almoço correram numa alegria desenfreada pela casa, enquanto os adultos continuavam a pôr a conversa em dia.

O almoço começou com caipirinhas, pataniscas de bacalhau e outros aperitivos enquanto assistíamos a uma sessão de saxofone, protagonizada pelo Fabrício, que até tocou a pedido, por exemplo, Summertime. Depois passámos para os queijos, para a morcela de arroz e farinheira grelhadas, acompanhadas com fatias de broa. Enquanto petiscávamos, o pai do nosso anfitrião tomava conta do assador, onde colocava febras, entrecosto e entremeada. Sentados à mesa acompanhámos a carne grelhada com saladas preparadas pela mãe do Hugo, feijão preto cozido e arroz branco confeccionados pela Marisa. Na mesa havia também moussaka com soja feita pelo Hugo.


Para sobremesa houve fruta variada, morgadinhos de amêndoa do Algarve, Dom Rodrigos, folar de Olhão, bolo de iogurte com sementes de papoila e uma sobremesa muito agradável, fresquinha, feita pela Marisa com palitos de la reine, recheio de gelatina e fruta com uma cobertura de doce de amoras silvestres. A acompanhar o café, tivemos umas caixinhas de chocolates vindas directamente da Bélgica. Eu não resisti a provar dois ou três sabores ou teriam sido quatro ou cinco?!


Depois do almoço, ao final da tarde, seguiu-se um passeio até ao Mosteiro da Batalha, mas antes participámos numa actividade de geocaching. Ou seja, participámos na procura de um artefacto, com a ajuda de um GPS, o que se revelou muito divertido. Tanto as crianças como os adultos procuraram atentamente. Depois de muita procura, lá encontrámos o "tesouro" escondido. Foi a primeira vez que participei neste tipo de actividade e gostei. É entusiasmante. Pelo que soube, existem imensos artefactos destes à espera de serem descobertos em Portugal.


Hugo, mais uma vez mais muito obrigada por nos teres recebido tão calorosamente. Encontrar estes amigos fez-me lembrar os bons momentos que passei com eles. Os reencontros com pessoas de quem temos boas lembranças sabem sempre muito bem. Depois deste encontro agora, só falta marcar o próximo.

[ Published in English as A friends gathering ]

terça-feira, 26 de julho de 2011

Bolo de chocolate e courgette com avelãs


Em época de courgettes há que aproveitá-las ao máximo. Não é um ditado popular, mas é uma regra cá por casa. Este fim-de-semana irei ver se a horta dos meus pais já esgotou, por este ano, a produção. Fico sempre cheia de pena. As courgettes são tão versáteis.

A courgette fica bem em praticamente tudo desde grelhados, assados no forno, arrozes, sopas, guisados e em bolos. Eu adoro bolos com courgette. Apesar de já não ser uma novidade, cá em casa ainda vou conseguindo surpreender alguns convidados quando faço um bolo com courgette.

Na semana passada, no jantar de pizas que reuniu alguns amigos de longa data, fiz um bolo de chocolate com courgette. A receita é da BBC Good Food.


Ingredientes:
350g de farinha com fermento
50g de cacau em pó
1 colher de sopa de especiarias (usei 10g)
175ml de azeite
375g de açúcar amarelo
3 ovos
2 colheres de chá de extracto de baunilha
2 courgettes pequenas raladas com a casca (aprox. 450g)
140g de avelãs tostadas e picadas
sal

Para a cobertura:
200g de chocolate para cozinha
100ml de natas


1. Aquecer o forno a 180ºC.

2. Numa taça combinar a farinha, o cacau, a mistura de especiarias e uma pitada de sal.

3. Noutra taça juntar o azeite, o açúcar, os ovos, o extracto de baunilha e a courgette ralada. Mexer e de seguida juntar os ingredientes secos já misturados.

4. Juntar as avelãs.

5. Colocar a mistura numa forma redonda untada com margarina ou óleo em spray.

6. Levar ao forno a cozer durante 45 a 50 minutos. Depois de cozido, deixar arrefecer. Desenformar.

7. Colocar o chocolate numa taça partido aos pedaços. Levar as natas ao lume e quando levantar fervura regar o chocolate. Mexer muito bem até estar completamente derretido. Colocar a cobertura por cima do bolo.


Eu fiz a minha própria mistura de especiarias. Juntei canela, erva-doce, noz moscada, gengibre, cominhos e cravinho. As proporções foram diferentes, usei mais canela e erva-doce e menos das restantes.

O bolo não fica muito doce e contrasta maravilhosamente com a cobertura. Fica especialmente húmido e intenso.

Os convidados aprovaram e nós também!

Outros bolos com courgette:
- Bolo de courgette com cacau e nozes;
- Bolo de courgette com farinha de alfarroba e amêndoas;
- Bolo de courgette e limão com sementes de papoila;
- Bolo de courgette e nozes.

[ Published in English as Chocolate and zucchini with hazelnuts cake ]

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Massinha couscous com pesto, queijo feta e camarão


Nestes dias em que a chegada das férias começa a dominar o que fazemos é bom ter uma ou duas receitas rápidas à mão. Cá por casa, esta salada de massa couscous com pesto é uma delas. Os ingredientes podem alterar de acordo com o gosto de cada um. Por exemplo em vez do camarão, podem usar frango assado, que fica muito bom também.


Ingredientes:
250g de massa couscous
200g de camarão
300g de ervilhas
100g de queijo feta cortado em cubos
1 cebola roxa picada
4 colheres de sopa de pesto
sal


1. Cozer, em recipientes diferentes, a massa couscous, as ervilhas e o camarão. Depois de cozidos, escorrer.

2. Colocar a massa, as ervilhas e o camarão numa taça. Adicionar o queijo feta cortado em cubos e a cebola roxa picada.

3. Juntar o pesto e um pouco de sal a gosto. Mexer e servir.


Esta salada pode ser servida morna ou fria. Fica muito agradável e come-se de forma gulosa.

[ Published in English as Pearl couscous with pesto, feta cheese and shrimp ]

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Noite de piza com os amigos


A vinda de férias a Portugal de um grande amigo de longa data foi o pretexto para organizar cá em casa, no domingo passado, um jantar de pizas.

As regras destes jantares em que os convidados vão para a cozinha meter a mão na massa, são as mesmas de sempre. Cada convidado deverá pensar em trazer os ingredientes para a sua piza. Nós fornecemos a massa e mais um ou outro elemento necessário, como o molho de tomate, por exemplo.

A noite começou com um brinde com um vinho branco Herdade do Esporão Duas Castas, ao nosso amigo Nuno e a este maravilhoso grupo de velhos amigos. Para acompanhar o brinde servi queijo de Azeitão no forno com orégãos, patê, azeitonas e um cestinho com pão e picos.

Já na cozinha, distribui pelos convidados uma base de metal e um pedaço de massa que deveriam esticar. E não foi que esticaram a massa muito bem! O momento de preparação das pizas é dos mais divertidos destes jantares. Quando cada um começa a revelar os ingredientes que trouxe acontece o inevitável. É que damos por nós e estamos todos a acrescentar mais uns quantos ingredientes à nossa piza que não tínhamos pensado. Trocamos ideias. E claro, rimos imenso.

A primeira piza a ir para o forno foi a do Nuno que procurou colocar os ingredientes de maneira a lembrar a bandeira americana. Na sua piza usou molho de tomate, cogumelos, presunto, queijo mozzarella fresco e ralado e orégãos. O Pedro fez uma das pizas mais inovadoras. Na base colocou molho de tomate e na cobertura usou cogumelos, tomate, presunto, salame e por cima uma generosa camada de fatias de queijo mozzarella. Mais um pouco e parecia uma Francesinha autêntica. ;)


A Cláudia e o Ricardo também brilharam com a sua piza apesar de estarem constantemente a dizer que não cozinham muito! Devia ser para confundir os restantes companheiros de aventura. Usaram molho de tomate, milho, ananás, bacon, pimento e queijo mozzarella ralado. O Ricardo e eu fizemos uma piza com chouriço picante, pimento verde e queijo mozzarella fresco e ralado.


Algumas das pizas foram servidas com rúcula. O vinho tinto escolhido foi Herdade do Esporão reserva 2004.

Para sobremesa o Pedro trouxe petit gâteau e eu fiz um bolo de chocolate e courgette com avelãs. Acompanhámos a sobremesa e os cafés com um cálice de vinho branco doce Grandjó colheita tardia 2007.

A conversa prolongou-se noite dentro. No final, ficou a vontade de repetir e de não estarmos tantos anos sem nos encontrarmos.

[ Published in English as Pizza night with friends ]

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Frittata de frango com tomate e pimento


O Cinco Quartos de Laranja, para mim, tem sido, especialmente nos últimos tempos, um orientador da minha vida. Orientador no sentido da escolha das minhas leituras, de algumas das minhas viagens, da ida a alguns restaurantes, do tipo de programas e séries televisivas que vejo. Impõe-me rotinas, leva-me a conhecer novas pessoas, obriga-me a procurar querer fazer mais e melhor, entre muitas outras coisas.

O blogue transformou-se num desafio, que me tem vindo a trazer outros desafios. Um desses últimos desafios foi fazer uma receita para a revista Activa de Junho de 2011. A receita pedida tinha apenas uma condição, o uso de sobras de frango. A receita foi incluída num artigo sobre poupança.


Ingredientes:
6 ovos
1 colher de sopa de mostarda
1dl de natas
50ml de azeite
1 cebola picada
1 cenouras cortada em cubinhos
50g de pimento cortado aos pedaços
2 tomates maduros
150g de frango assado limpo de peles e ossos
25g de queijo da ilha de São Jorge ralado
sal q.b.
pimenta q.b.


1. Bater os ovos com a mostarda e as natas. Reservar.

2. Numa frigideira colocar o azeite. Levar ao lume e adicionar a cebola e a cenoura.

3. Juntar o pimento e os tomates limpos de sementes cortados aos cubos. Temperar com sal e pimenta. Deixar cozinhar até os legumes ficarem macios, mexendo de vez em quando.

4. Adicionar o frango assado desfiado. Mexer.

5. Retirar a frigideira do lume e adicionar a mistura dos ovos.

6. Colocar o preparado num pirex forrado com papel vegetal. Polvilhar com o queijo ralado.

7. Levar ao forno pré-aquecido a 200ºC durante 20 minutos.


A frittata fica muito saborosa. O tomate e o pimento, com o ligeiro toque da mostarda, dão-lhe imensa piada.

Já agora, hoje no Jornal da Noite da SIC, na rubrica Contas Poupança, passará uma reportagem sobre o projecto 4 por 6. Para mim, foi mais um dos desafios a que o Cinco Quartos de Laranja me tem sujeito. Espero que gostem.


[ Actualização 21-07-2011 22:41 ]:
Pelos vistos, não foi hoje que passou a reportagem sobre o 4 por 6 na SIC. Será para a semana?! :) Assim que souber, divulgo.


[ Published in English as Chicken with tomato and pepper frittata ]

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Espetada de melancia, mozzarela e azeitonas


Diz-se que "gostos não se discutem", no entanto eu dou por mim muitas vezes a questionar-me por que motivo é que não sou grande apreciadora de melancia. Reconheço que é uma fruta excelente para o verão. Uma fatia de melancia fresquinha num dia de calor é uma maravilha.

Por reconhecer o valor da melancia, desde o ano passado para cá que tenho procurado usar mais esta fruta tão típica do Verão. O ano passado experimentei-a em sumos e numa salada. Este ano ao ver a receita de espetadas de melancia na revista Continente de Junho de 2011, com um ar tão apetitoso que não consegui resistir.


Ingredientes:
500g de melancia sem casca e sem sementes
150g de queijo mozzarela snack
100g de azeitonas verdes descaroçadas
flor de sal e pimenta moída q.b.
azeite q.b
20 espetos de madeira


1. Com uma colher Paris (própria para o efeito) fazer pequenas bolas de melancia. Reservar.

2. Escorrer o queijo e as azeitonas.

3. Colocar os ingredientes em taças separadas.

4. Colocar no espeto primeiro melancia, depois ir alternado com o queijo e as azeitonas e terminar com a melancia.

5. Colocar as espetadas numa travessa. Temperar com o azeite, flor de sal e pimenta.


Esta é uma solução fresca para uma entrada servida, por exemplo, num almoço com amigos ou família.

Cá em casa esta combinação de melancia, queijo mozzarela e azeitonas foi também servida em forma de salada. Num prato dispus os anteriores ingredientes, juntei folhas verdes e temperei com sal, pimenta, azeite e vinagre. É que uma melancia dá para muita coisa!

[ Published in English as Watermelon, mozzarella and olives skewers ]

terça-feira, 19 de julho de 2011

Salada de batata com beldroegas e alcaparras


De há uns anos para cá que gosto de usar beldroegas. Cresci a olhar para elas como ervas daninhas que aproveitavam a frescura das hortas, que invadiam tudo e que não interessavam. Eu comecei por usá-las em sopas - ainda não fiz a famosa sopa de beldroegas com queijo alentejana, mas está na lista - e a partir daí seguiram-se as saladas. A ideia da salada de hoje veio do blogue Kahakai Kitchen.


Ingredientes:
400g de batatas
1 molhinho de beldroegas
1 cebola picada
1 colher de sopa de alcaparras

Para o molho:
1 colher de sopa de sumo de limão
1 colher de sopa de vinagre de vinho tinto
1 colher de sopa de mostarda em pó
4 colheres de sopa de azeite
1 dente de alho picado
sal e pimenta q.b


1. Cozer as batatas cortadas ao meio. Depois de cozidas, deixar arrefecer.

2. Arranjar as beldroegas, retirando as folhas e pequenos raminhos. Lavar bem e escorrer.

3. Numa taça colocar as batatas cozidas e cortadas em cubos, a cebola picada e as beldroegas.

4. Para o molho, misturar todos os ingredientes numa taça e mexer com uma vara de arames.

5. Regar a salada com o molho, mexer e servir.


Esta salada foi o acompanhamento de umas costeletas de borrego grelhadas.

As beldroegas que usei foram apanhadas, por mim, na horta dos meus pais. No entanto, já se encontram com alguma facilidade à venda nas grandes superfícies.

Outras receitas com beldroegas:
- Sopa de beldroegas com feijão cozido e tomate;
- Sopa de beldroegas com ovo e orégãos;
- Sopa de courgette com manjericão e beldroegas;
- Ovos escalfados em tomate e beldroegas;
- Salada de beldroegas com pêssego e queijo fresco;
- Salada de beldroegas com tomate e cebola;
- Salada de figos com queijo roquefort e pinhões torrados.

[ Published in English as Potato, purslane and capers salad ]

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Uma história com sabor a praia e mar e um arroz de goraz


Eram três. Maria, Joana e Manuel. As férias grandes de verão traziam-nos durante três semanas até à casa dos avós maternos no Algarve. A casa ficava junto à praia. Tinha dois pisos e estava pintada de branco. As janelas eram sublinhadas por uma barra azul e pequenos vasos, presos à parede, com sardinheiras vermelhas. Uma cerca de madeira, também pintada de branco, dava a volta a casa, cortada apenas por um portão situado em frente à entrada principal. Dentro da cerca, um pequeno jardim com canteiros de flores, duas laranjeiras, uma figueira e três pés de videira que cresciam por uns paus de madeira e cobriam todo o espaço junto às escadas para a açoteia. Era ali que muitas das vezes as crianças brincavam ao final do dia, à sombra, debaixo de grandes e maduros cachos de uvas. Ou se deliciavam com os figos maduros e doces que apanhavam da figueira.

Maria era a mais velha, Joana a irmã do meio e Manuel o mais novo. Tinham de diferença entre si, precisamente três anos. Manuel, muitas vezes tinha que recorrer ao choro e a muitas lágrimas gordas e salgadas para fazer valer as suas vontades. Mas a idade em certas alturas é um posto e as irmãs acabavam por ceder.

Os dias de verão eram marcados por uma rotina. De manhã ida à praia bem cedo. Uma ou outra vez a avó e a criada Teresa, que os pais faziam questão que os acompanhasse, levavam-nos à água. Mas o que gostavam mesmo era de brincar na areia.

Com as suas pás, baldes e formas de diversos feitios, construiam castelos onde ora, vivia uma princesa bonita presa a um feitiço e por isso nunca podia sair do castelo durante o dia, ou uma terrível rainha, de olhar de limão azedo, que aprisionava todas as crianças gordas e rechonchudas que depois transformava em pequenos sapinhos amorosos com que adorava brincar. Construíam também fortes cheios de especiarias e tesouros que nem o Capitão Gancho sonharia, barcos com velas rasgadas pela força do vento, piratas trapalhões com pernas de pau e que não sabiam assobiar, sereias que cantavam doces melodias e adormeciam os marinheiros num sono tão profundo que deixavam os seus barcos naufragar, baleias gigantes e peixes coloridos que nunca viram.

Depois do almoço, dormiam a sesta e os seus sonhos eram povoados de aventuras com sabor a mar. Manuel, sonhava sempre que era um valente marinheiro, destemido e forte, e que tinha que salvar as suas irmãs que imprudentemente se envolviam em sarilhos.

Para além das doces brincadeiras de sonho na areia, riam de contentes quando o seu avô António os levava à pesca. O avô preparava as canas, os anzóis e o isco, e cada um deles levava um baldinho para trazer o seu peixe ou uma ou outra amêijoa que apanhassem na Ria Formosa. Aqueles passeios com o avô à pesca eram mágicos. Mas mais mágico ainda era quando regressados a casa, o avô António ia para a cozinha e preparava uma deliciosa refeição com o peixinho que apanhava.

Maria, Joana e Manuel, cresceram, tiveram filhos e o avô António já partiu. Mas acreditam que ainda se recordam com um sorriso nos lábios daquelas férias de verão e da receita de peixe do avô, feita agora em ocasiões especiais.


Ingredientes:
1kg de goraz
2 cebolas
3 dentes de alho
1 colher de chá de colorau
3 tomates maduros
2 folhas de louro
1,5dl de azeite
sal e pimenta
400g de arroz carolino
água quente (aprox. 1,2L)


1. Cortar o goraz às postas e polvilhá-lo com sal.

2. Num tacho, levar ao lume médio, o azeite e refogar as cebolas cortadas às rodelas ou em meias-luas, os alhos esmagados, as folhas de louro e o colorau.

3. Depois da cebola quebrar, adicionar o tomate picado limpo de peles e sementes. Deixar ferver até ficar quase em puré. Temperar com sal e pimenta.

4. Juntar 2,5dl de água quente. Quando levantar fervura adicionar as postas de goraz. Assim que cozido retirar as postas e reservar.

5. Acrescentar a água e adicionar o arroz. Rectificar os temperos.

6. Servir o arroz com as postas de peixe.


Este arroz fica uma delícia. O tomate faz toda a diferença. A receita encontrei-a no livro Receitas Portuguesas de Francisco Guedes.

Com esta história e este saboroso arroz de tomate e peixe, participo na festa do terceiro aniversário do figo lampo.

Margarida, muitos parabéns!

[ Published in English as A story with a zest of beach and sea and a tomato and bream rice ]

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Ovos escalfados em molho de tomate e beldroegas


Hoje consegui vir almoçar a casa e ficar com a tarde livre. Pelo caminho do trabalho até casa comecei a magicar no que deveria fazer para o almoço. Queria algo reconfortante, rápido e saboroso. A viagem é curta e não deu para muitos pensamentos, mas mesmo assim juntei num refogado tomate e beldroegas com ovos escalfados.


Ingredientes:
1,1 kg de tomate maduro
1 cebola picada
2 folhas de louro
2 dentes de alho picados
1 dl de azeite
sal e pimenta
1 molhinho de beldroegas
4 ovos
orégãos secos
fatias de pão torrado


1. Colocar a cebola, o alho, as folhas de louro e azeite num tacho. Levar ao lume e deixar refogar em lume brando.

2. Limpar o tomate de peles e sementes. Picar o tomate. Juntar o tomate ao refogado de cebola. Temperar com sal e pimenta. Tapar o tacho e deixar cozinhar.

3. Arranjar as beldroegas de modo a aproveitar apenas as folhas.

4. Juntar as beldroegas ao refogado de tomate.

5. Abrir pequenas covinhas no refogado e deitar aí os ovos. Deixar cozinhar. Depois de cozinhados, polvilhar os ovos com orégãos secos.

6. Servir os ovos com o molho de tomate e beldroegas com pão torrado.


Adorei este almoço. Tão simples e tão agradável. Soube mesmo bem!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Sargo assado no forno com limão e orégãos frescos


O Verão combina com salada de pimentos, figos doces, fatias de melancia, meloas com vinho do Porto, sangrias, sumos de fruta e grelhados. Verão para mim são grandes dias de calor em que apetece comer à sombra, em que apetece passear perto da frescura da água, em que apetece reunir a família e comer peixinho grelhado, em amena conversa.

Fazer peixe grelhado num apartamento é uma tarefa complicada e que se revela terrivelmente fumarenta. Arrisco a grelhar uns lombos de salmão e pouco mais, nunca peixes inteiros. Por isso, resta-me usar e abusar dos assados de peixe no forno, que eu também adoro e resultam na perfeição.


Ingredientes:
3 sargos
1 raminho de orégãos frescos
4 batatas cortadas às rodelas finas
2 tomates maduros cortados às rodelas
1 limão cortado às rodelas
3 fatias de bacon
sal e pimenta
1dl de vinho branco
1dl de azeite


1. Dispor as batatas e o tomate num tabuleiro de forno.

2. Temperar os sargos com sal e pimenta a gosto. Recheá-los com uma rodela de limão e orégãos frescos.

3. Colocar os sargos no tabuleiro, em cima das batatas, com uma rodela de limão por baixo.

4. Colocar uma fatia de bacon por cima de cada peixe, com uma haste de orégãos e uma rodela de limão. Regar com o vinho branco e de seguida com o azeite.

5. Levar ao forno pré-aquecido a 200ºC durante aproximadamente 40 minutos.


O peixe fica muito agradável e a combinação do tomate com as batatas resulta muito bem.

Acender o forno nesta altura é uma forma de nos reconfortarmos face ao vento desagradável e frio que se tem sentido nestes últimos dias. O Verão não combina com vento nem com casacos. Que saudades dos dias quentes!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Sumo de ameixas e nectarinas


Os dias começam a custar a passar. As semanas parecem eternidades sem fim à vista. É sempre assim quando aguardo a chegada das férias. Na minha cabeça as ideias começam a andar em polvorosa, assim que decido o que irei fazer e que destinos me aguardam. Faço listas do que tenho que preparar e do que quero ver, peço sugestões, traço itinerários e penso onde irei comer. O entusiasmo das férias começa, dia após dia, a tomar conta de mim.

Mas, enquanto as férias não chegam e o Verão andar a brincar às escondidas, eu alimento-me de sonhos, de saladas e de sumos fresquinhos, feitos para aproveitar a cesta de ameixas que chegou à minha cozinha, especialmente ao fim da tarde, na companhia de um livro.


Ingredientes:
10 ameixas vermelhas maduras sem a pele
3 nectarinas com a casca
1 banana
1 iogurte cremoso de manga
10 cubos de gelo

1. Colocar os ingredientes no liquidificador e triturar.


Com um sumo refrescante e delicioso, é mais fácil esperar pelas férias! ;)

terça-feira, 12 de julho de 2011

Febras de porco com laranja e cardamomo


Ao folhear a revista Saveurs de junho de 2011, a receita de febras com laranja e cardamomo chamou-me a atenção. Normalmente gosto de recolher receitas com febras, porque acho que são muito práticas para refeições no dia-a-dia e por outro lado, gostei da ideia de juntar os sabores do funcho com os da laranja.


Ingredientes:
600g de febras de porco
4 laranjas
2 cebolas pequenas
2 bolbos de funcho
25g de manteiga
4 colheres de sopa de azeite
3 cardamomos
sal e pimenta


1. Alourar as febras numa frigideira com a manteiga.

2. Adicionar o sumo e a raspa de duas laranjas, os cardamomos ligeiramente abertos e as cebolas cortadas em meias luas. Temperar com sal e pimenta. Tapar e deixar cozinhar.

3. Cortar o funcho.

4. Colocar o azeite numa frigideira e saltear o funcho. Temperar com sal e pimenta.

5. Descascar as restantes duas laranjas. Limpar os gomos de peles.

6. Servir as febras com o funcho e os supremos de laranja.


Funcho e laranja revelou-se uma combinação muito interessante. O funcho, tenro e crocante, resultou na perfeição com os sabores da laranja e com um ligeiro aroma a cardamomo.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Bolo de courgette e limão com sementes de papoila


Para sobremesa, no dia em que comemorámos, cá em casa, o aniversário do Ricardo, fiz um bolo de courgette e limão com sementes de papoila que vi na revista BBC Good Food. No dia da festa, não houve disposição para tirar fotografia e ontem acabei por voltar a fazer o bolo, que nos soube muito bem, num domingo de preguiça passado em casa.


Ingredientes:
250 g de manteiga sem sal à temperatura ambiente
3 limões
200 g de açúcar amarelo
3 ovos
300 g de courgette ralada
1 colher de sopa de sementes de papoila
1 colher de sopa de essência de baunilha
100 g de farinha com fermento
100 g de farinha integral
1 colher de chá de fermento
sal
85 g de açúcar em pó
200 g de queijo fresco em creme
4 colheres de sopa de lemon curd


1. Aquecer o forno a 180ºC.

2. Untar com margarina duas formas com 20 cm cada.

3. Numa taça colocar os ovos, a courgette, 200g de manteiga, o açúcar, as sementes de papoila, a essência de baunilha, a raspa de dois limões e bater muito bem com uma vara de arames.

4. Adicionar 1 colher de sopa de sumo de limão, as farinhas, o fermento e o sal. Bater muito bem.

5. Dividir a massa pelas formas e levar ao forno durante aproximadamente 20 minutos.

6. Depois dos bolos cozidos deixar arrefecer.

7. Bater a restante manteiga com o açúcar em pó e uma colher de sopa de sumo de limão. Juntar o queijo, duas colheres de sopa de sumo de limão e a raspa de um limão. Bater bem até ficar em creme.

8. Colocar um dos bolos num prato de servir. Barrar com o creme e depois regar com o lemon curd. Por cima, dispor o outro bolo. Barrar a superfície com o restante creme e polvilhar com sementes de papoila. Levar ao frigorífico e servir fresco.


O creme faz a diferença neste bolo com um delicioso sabor a limão.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Sumo de maracujá, laranja e nectarina


Encontrei há uns tempos um livro, A Viagem dos Cem Passos de Richard C. Morais, na Fnac que me chamou a atenção. O que me fez pegar no livro foi uma frase de Anthony Bourdain na capa dizendo que este livro seria "provavelmente o melhor romance de sempre ambientado ao mundo da culinária". Apesar de achar o comentário um pouco exagerado acabei por comprar o livro. Eu não resisto a um romance que gire à volta da comida.

A Viagem dos Cem Passos apresenta-nos a ascensão no mundo da gastronomia do jovem Hassan Haji. Para Hassan, desde muito novo que o seu destino já estava traçado, pois a primeira coisa que recorda "(...) é o cheiro do machli ka salan, um caril picante de peixe, que se elevava desde o soalho até à cama de grades no quarto dos meus pais por cima do restaurante."

Com a morte da mãe, a família viaja da Índia para Londres. O romance está cheio de referências aos deliciosos aromas da cozinha indiana e à sofisticação, elegância, da cozinha francesa. Em relação ao seu contacto com a comida em Londres, diz-nos: "(...) estivemos sentados durante horas em cadeiras de plástico sob uma luz intensa no aeroporto de Heathrow enquanto o meu pai gritava e brandia o seu estrato bancário ao agente da imigração de rosto franzido, decidindo o nosso destino. E foi nessas cadeiras que provei pela primeira vez a Inglaterra: uma sandes de salada de ovo fria e mole envolta num triângulo de plástico. É do pão, em especial, que me lembro, da forma como se dissolveu na minha língua. Nunca tinha provado nada tão determinadamente insípido, molhado e branco."

Em Londres, Hassan é confrontado com um outro mundo, muito diferente daquele a que estava habituado. Entre as muitas descobertas que faz encontra-se o seu contacto com as pinturas de Chardin e como este artista "(...) pintara repetidamente, o mesmo coelho morto, a mesma perdiz morta e o mesmo copo – na cozinha. A mesma mulher e a mesma copeira e o mesmo jovem adegueiro – na cozinha." Identifiquei-me com esta passagem. Também eu, adoro pinturas de naturezas mortas relacionadas com a cozinha. No início do Cinco Quartos de Laranja procurei publicar quadros com cenas que retratavam a cozinha.

Depois de uma viagem pela Europa, o pai decide estabelecer-se em Lumiére, uma pequena localidade francesa. Hassan passa a assegurar a cozinha do restaurante da família. Sem se aperceberem entram numa pequena guerra de palavras e de acções, com a conceituada chef Madame Mallory, dona do restaurante em frente ao da família. Graças a um acidente, Hassan passa a fazer uma viagem de cem passos entre a casa do pai e o restaurante elegante de Madame Mallory. "Uma coisa poderosa, o destino. Não podemos fugir dele. No fim vence sempre." O destino, se existe ou não não sei, mas que às vezes as coisas da vida deixam-nos a pensar sobre como tudo pode estar interligado. Quando damos um passo, a sequência de acontecimentos pode ter consequências inesperadas. Por isso, algumas vezes, o melhor é arriscar. Para Hassan, foi o que aconteceu.

É com Gertrude Mallory que Hassan desenvolve o seu talento natural para a cozinha, onde aprende a conhecer e a seleccionar os produtos frescos, de qualidade. Aprende a reconhecer os diferentes tipos de ostras e que no Inverno as formas de soufflé terão que estar à temperatura ambiente. Aprende também que o sal da vida é não ter medo de provar algo novo. Depois de Lumiére, Hassan parte para Paris. "Para ser sincero, a minha ascensão em Paris ao longo dos vinte anos seguintes não foi tão difícil como se poderia suspeitar. Era como se um espírito invisível retirasse os obstáculos e me ajudasse a tomar o caminho que, acredito, sempre me fora destinado." No livro percebemos que esse espírito deve ter sido Madame Mallory, que mesmo à distância o tentou sempre ajudar. Madame Mallory, revela uma atitude digna de louvor, percebeu que Hassan seria melhor do que ela e não hesitou em proporcionar-lhe a ajuda que conseguisse, mesmo sem nunca o dizer ou o demonstrar. Foi na prática a força invisível, o anjo protector da carreira de Hassan. Quando temos ajuda e alguém que acredita em nós, tudo é mais fácil.

O romance respira comida. Eu fiquei curiosa com as lebres marinadas em vinho branco, louro, alho esmagado, vinagre de malte, mostarda doce alemã e bagas de zimbro secas e esmagadas, com uma salada de pepino e natas azedas colorida com mirtilos, com a omeleta com caras de bacalhau e caviar. Pelos nomes só podem ser coisas boas, de certeza! A Viagem dos Cem Passos é, para além da história de ascensão de Hassan, uma visão do mundo da chamada alta gastronomia, dos problemas que alguns restaurantes enfrentam mesmo com estrelas Michelin.

Este é um livro que recomendo para ler nas férias, entre um sumo de maracujá, laranja e nectarina, numa esplanada a saborear o aroma salgado do mar.


Ingredientes:
500 ml de sumo de maracujá ou polpa de maracujá
300 ml de sumo de laranja
3 nectarinas sem a casca
12 cubos de gelo


1. Colocar os ingredientes no liquidificador e triturar.

2. Distribuir o sumo por copos e servir.


Este sumo fica uma delícia bem fresquinho. As sementes de maracujá trituradas, dão um ar exótico ao sumo e ajudam a dar textura.

Os sumos, cá por casa, nos últimos tempos têm sido a companhia das minhas leituras.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Perna de borrego assada no forno com mostarda em grão


No sábado passado organizei cá em casa o almoço de aniversário do Ricardo para uns amigos chegados. Como entrada servi a sopa fria de meloa e presunto e o prato principal foi uma perna de borrego assada lentamente no forno, que sei que ele adora.


Ingredientes:
1 perna de borrego inteira
3 colheres de sopa de mostarda em grão
4 dentes de alho picados
2 hastes de alecrim
1 raminhos de orégãos frescos
1 raminho de tomilho
sal e pimenta
4 colheres de sopa de azeite


1. Picar as ervas. Numa taça colocar as ervas picadas, a mostarda, o alho, sal e pimenta.

2. Barrar a perna com a mistura de ervas e mostarda. Regar com o azeite.

3. Colocar a perna num tabuleiro e levar ao forno pré-aquecido a 150ºC durante aproximadamente três horas (até a carne atingir os 82ºC).


Para assar um pedaço de carne inteiro e especialmente assim num processo lento, em que vai libertando a pouco e pouco os sucos, é aconselhável o uso de um termómetro, pois só assim se consegue controlar eficazmente o assado ou seja, só assim se consegue controlar o ponto de cozedura da carne, de modo a que fique suculenta, cheia de sabor e não seca, despida de graça.

Depois do almoço, seguimos em direcção a Sesimbra onde demos um passeio à beira-mar. Quando voltámos a casa, ainda não tínhamos fome! :)

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Sopa fria de meloa com presunto


O Ricardo fez anos em finais de Junho. E aniversário significa festa. Bolo. Amigos e família. E assim foi. Ao preparar o menu, perguntei-lhe o que é que queria que eu fizesse. Ou seja, o que é que gostaria de comer na sua festa de aniversário? E a resposta foi sopa fria e um bolo de chocolate e beterraba. Sopa fria? Pois. Para mim a ideia de sopa é quentinha a fumegar. Reconfortante. Mas que sopa fria? - voltei a perguntar. Ao que me respondeu sem hesitações: - Salmorejo! Nas últimas viagens por Espanha, o Ricardo - que já era fã do gaspacho - ficou fã do salmorejo! Eu acho piada, mas não morro de amores.

Na véspera vi o que era necessário e só me faltava o tomate. No dia do aniversário, assim que cheguei a casa, fomos ao supermercado que existe por baixo da nossa casa e o tomate que havia não tinha grande aspecto e já estava no resto, poucos mais eram que quatro ou cinco com algumas mazelas. Aquele tomate não servia, não havia tempo para irmos a outro lado, por isso impunha-se uma mudança de planos urgente. O que é que eu faço agora? - pensei eu. Ainda no supermercado, lembrei-me que tinha visto uma sopa fria de meloa na revista do Continente do mês de Junho e que tinha em casa os ingredientes necessários. O Ricardo concordou. Estava decidido!

Fiz a sopa fria de meloa com presunto para a festa com a família no dia do seu aniversário e para o almoço com amigos que fizemos cá em casa, no sábado seguinte. Entrar numa nova década, merece uma comemoração a valer, não acham? :)


Ingredientes:
1kg de meloa sem a casca e sem sementes
2 colheres de sopa de hortelã picada
2,5dl de água com gás
sal q.b.
pimenta
4 fatias finas de presunto


1. Numa frigideira anti aderente fritar o presunto até ficar crocante de um lado e de outro. Colocar sobre papel absorvente.

2. No liquidificador triturar a meloa, juntar a água até obter a consistência desejada.

3. Adicionar a hortelã, o sal e a pimenta. Voltar a triturar.

4. Servir em pequenos copos colocando em cima o presunto crocante.


O sabor da hortelã, o aroma doce da meloa e por fim a textura do presunto fizeram desta sopa uma excelente entrada.

As minhas hesitações em relação às sopas frias têm vindo a ser cada vez menos. Eu adorei esta sopa. Servi-a bem fresquinha. Para isso, usei meloa que tinha no frigorífico e água fria. É importante que a meloa seja boa. A sopa vive da qualidade deste ingrediente.

Experimentem!

terça-feira, 5 de julho de 2011

Em busca de Alhambra e das memórias arábes de Granada


Foi a primeira vez que fui a Granada. Cheguei de carro, após uma viagem que passou por Sevilha, onde fomos para aproveitar os feriados de 10 e 13 de Junho, com direito a fim-de-semana prolongado. O calor que se fazia sentir foi minimizado pelo ar condicionado do carro, graças a Deus! Ao longo do percurso fomos acompanhados por uma paisagem dominada, não pelas oliveiras tão comuns na Andaluzia, mas por extensões e extensões de campos cultivados com girassóis, que transformaram todas aquelas planícies num mar de verde e amarelo, muito bonito.


Depois de nos alojarmos num hotel perto do centro, escolhemos jantar no restaurante Tendido 1, localizado num dos cantos da Praça de Touros, com uma esplanada, onde se estava lindamente. Ambos os restaurantes da praça estavam cheios. Optámos por uma selecção de queijos e peixe fumado, a dividir por todos. É claro, que os rapazes insistiram primeiro em pedir um salmorejo e um gaspacho! :)


No dia seguinte partimos à descoberta de Alhambra e de Generalife. O calor era tanto que nem as lagartixas se atreviam a sair do fresco. Chegámos por volta da hora do almoço. Comprámos bilhete e iniciámos a nossa caminhada. Começámos por visitar o Palácio de Carlos V e uma exposição com trabalhos de Escher, que numa visita a Alhambra se encantou com os mosaicos de um dos palácios árabes e pelo modo como as figuras se entrelaçavam e repetiam. Este foi o ponto de partida para alguns dos seus trabalhos mais famosos onde o artista procurou preencher regularmente o espaço. Daqui fomos para a alcáçova. Antes de entrarmos, comprámos uma sanduíche para cada um (só havia de presunto!) e água. Comer presunto num dia de calor! Ui! :( Haveríamos de nos aguentar. Para além disso, o almoço ficava para mais tarde.

Comemos as sanduíches à sombra de uma das grandes tílias, em flor, que encontrámos no jardim, entre o Palácio de Carlos V e a alcáçova, a zona do aquartelamento militar. À nossa frente um grupo de jovens francesas sentadas num dos muros apanhavam todo o sol que conseguiam, enquanto davam pequenos pedacinhos de comida a muitos dos gatos que por ali vivem e se aproximam dos turistas.

Quando entrámos na alcáçova, era ver-nos a andar encostados aos muros, em busca de fresco ou de alguma pouca sombra que existisse. Acompanhou-nos um grupo de turistas japoneses, bem mais equipados do que nós. Chapéus de chuva a proteger do sol, as caras carregadas de creme e, algumas das senhoras ostentavam umas proteções para os braços. Quem sabe, sabe!


As visitas ao complexo de palácios têm hora marcada. Quando compramos o bilhete é indicada a hora a que pudemos entrar. Quando chegou a hora da nossa visita juntámo-nos à fila.

Quando penso em Alhambra penso em Isabel de Solís, a cristã cativa por quem o rei de Granada Muley Hacen se apaixonou. Diz a lenda que Isabel era uma mulher muito bonita, beleza a que o rei não foi indiferente. Isabel converteu-se ao islamismo, recebeu o nome de Zoraya, que significa estrela da manhã, e o rei tornou-a a sua esposa favorita. Depois de muitas intrigas, o rei abdica a favor do seu irmão e parte para o exílio com Isabel e os dois filhos. A lenda é inspiradora. Alhambra fica assim para sempre associada ao nome de uma bela cativa, de nome Isabel! :)

Os interiores dos palácios são a prova viva da excelência da arte islâmica e da habilidade dos artesãos árabes dos séculos XIII e XIV. Andar por aqueles palácios, ver toda aquela beleza arquitetónica, os pátios, as janelas, os jardins, não nos deixa indiferentes.


Depois de visitarmos Alhambra e o Generalife, já que estávamos tão perto fomos até à Serra Nevada. Ao subir, numa das encostas, do lado direito vi portas, como se tivessem escavado casas na encosta. Achei tão curioso e surpreendente. Casas feitas em grutas, será?! Não comentei nada e seguimos a nossa viagem.

Quando chegámos, ao longe, a Serra ainda com neve olhava para nós com ar imponente. Sem saber bem ao que íamos começámos por andar nas ruas desta famosa estância de ski. Surpresa das surpresas. Assim que estacionámos o carro, entrámos numa rua à direita e nada. Nada é como quem diz, as lojas estavam todas fechadas. Algumas das janelas estavam tapadas, as montras das lojas pareciam abandonadas há semanas. Parecia que estávamos numa cidade deserta, fantasma.

Continuámos a andar. Parámos junto ao teleférico. Em frente, num campo verde, pastavam duas vacas leiteiras enormes que pareciam andar por ali à vontade, sem dono por perto. Sons de gente, nada. Olhámos em volta e os hotéis, lojas e escolas de ski, restaurantes, tudo encerrado. Aquela localidade deserta fez-nos lembrar o filme The Shining, de Stanley Kubrik, com Jack Nicholson no papel principal. O filme apresenta-nos uma família que vai cuidar de um hotel durante o Inverno numa zona isolada. Recordo-me da cena em que a criança anda de carrinho de rodas pelos corredores do hotel completamente deserto e a música a sugerir-nos que alguma coisa de mal vai acontecer ... Lembram-se? Quando vimos duas pessoas a almoçar numa esplanada, começámos a rir, é claro. Era melhor deixarmo-nos de filmes. Assim que soubemos que ainda serviam almoços, respirámos de alívio. Numa localidade deserta, a cheirar a filme de terror, cheios de fome, encontrar pessoas e saber que podíamos almoçar foi um alívio. Acreditem, com a fome que nós estávamos até o espírito do mal que vagueava pelo hotel deserto de The Shining, se afastava. Nem houve disposição para as fotos documentais.

À noite, petiscámos na Meson Alegria, no centro de Granada. Assim que nos sentámos, pedimos cervejas e a acompanhar veio uma tapa de frango guisado, que comemos com imensa satisfação. Quando recebemos a conta, percebemos que esta tapa não estava incluída. Em Granada, há tapas grátis, como por cá temos em certos locais os pires de tremoços. Para compor o estômago, pedimos ainda uma salada de bacalhau com batata e azeitonas e bacalhau assado em papelote com salada. Para sobremesa, decidimos passar numa gelataria, situada perto da Plaza Campillo, que nos chamou a atenção pelo enorme e esplendoroso candeeiro que ostentava. Depois de comermos o nosso gelado seguimos de carro até ao bairro Albaicín.


No dia seguinte, partimos com destino a Marbelha. Ali, almoçámos num bar na rua marginal à praia. Depois, fomos tomar a sobremesa e o café, na esplanada de um restaurante, a poucos metros do mar. Enquanto esperávamos pelas sobremesas, decidi fotografar o peixe que um dos empregados do restaurante colocou a assar. Curioso, não é? Assam o peixe num espeto. Parece muito prático, assim não têm o problema do peixe se pegar à grelha! :)


Ali, à beira mar, num dia de sol, com gente na praia, soube muito bem saborear um pudim com arroz-doce. O Ricardo, o Nuno e a Graciete optaram pelos gelados. Quando acabámos, retomámos a nossa viagem. O jantar seria em Badajoz.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Frango assado no forno com aipo e cenoura


Eu adoro comida feita no forno. Sempre que os dias começam a ficar cinzentos, menos quentes, eu penso logo em fazer qualquer coisa no forno. Num destes dias sem graça, que não se enquadram no espírito do Verão, fiz um frango assado no forno com aipo e cenoura. A ideia veio do blogue The Making of a Foodie.

Para além de adorar comida feita no forno, por ser saborosa e no fundo não dar trabalho quase nenhum, pois assim que entra no forno é, na prática, uma questão de tempo. Para além disso, tenho um certo fascínio por assar os frangos inteiros. Não sei de onde me surgiu este gosto, mas só pode vir do facto de na casa dos meus pais nunca se assar frango assim. Nem o peru. Pelo menos eu não me lembro. Há coisas que se manifestam e que andam escondidas no nosso subconsciente. No meu caso, essas manifestações prendem-se sempre com comida! Freud, de certeza que explica! :)


Ingredientes:
1 frango (usei um frango do campo, caseiro)
2 cebolas
1/2 limão
alecrim
tomilho
3 talos de aipo
3 cenouras
10 dentes de alho
sal e pimenta
150g de manteiga (derretida)


1. Cortar o limão, meia cebola e picar 4 dentes de alho. Picar um raminho de alecrim e de tomilho. Misturar os ingredientes e temperar com sal e pimenta, reservando um pouco das ervas picadas.

2. Rechear o frango com a mistura anterior. Atar as pernas do frango.

3. Temperar o frango com sal e pimenta e salpicar com as ervas picadas.

4. Colocar o frango num tabuleiro de forno. Dispor à volta as cenouras, o aipo, as cebolas cortadas e os dentes de alho esborrachados. Temperar os vegetais com sal e pimenta.

5. Regar o frango com a manteiga levar ao forno pré-aquecido a 180ºC durante 1h30.


O frango ficou delicioso. Suculento, com a pele estaladiça. A combinação de legumes também resultou muito bem. Cá por casa, foi mais uma receita que adorámos.


Outras receitas de frango assado:
- Galinha do campo assada no forno;
- Frango assado com ervas e limão.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Sopa de cenoura e tomate


Não gosto destes dias em que o tempo não se define. De manhã, sol e calor. Um calor de apetecer deixar tudo e ir para a praia, apanhar sol, comer gelados, rir, a bom rir. E agora à tarde, abafado e chuva. Olho pela janela e vejo o céu coberto de cinzento! Não gosto. Olho para mim e sinto-me como o tempo. Como se algo se tivesse quebrado. Uma leve inquietação que pulsa sem motivo.

Nestes dias assim, o meu refúgio tem nome. Um livro, de preferência de poesia, hoje abracei-me a Cecília Meireles e à sua Antologia Poética e um prato de sopa, quente e fumegante, servido numa taça que possa agarrar entre as mãos.

Acompanhei a sopa com umas torradas barradas com manteiga, de preferência dos Açores. A simplicidade do pão torrado contrasta com todo o prazer que nos dá. Quentinho, estaladiço, barrado com manteiga ou com uma fatia de queijo, ajuda-nos a equilibrar as forças, a perceber que há dias em que até os anjos, depois de varrerem o céu, precisam de dormir a sesta!


Ingredientes:
1kg de cenouras
2 cebolas
850g de tomate maduro
1 alho-francês cortado
1 ramo de salsa picado
sal e pimenta
água


1. Descascar e cortar as cenouras e as cebolas.

2. Limpar o tomate de peles e sementes.

3. Colocar os ingredientes numa panela. Adicionar água e sal. Levar ao lume a cozer.

4. Depois dos legumes cozidos, retirar do lume e triturar com a varinha mágica.

5. Levar a panela novamente ao lume. Adicionar o alho-francês, a salsa, azeite e pimenta a gosto.

6. Servir com pão torrado.

O tomate marca fortemente esta sopa. Eu que não sou muito fã de tomate cozinhado, gostei, mas como se costuma dizer, não amei. Valeu o conforto ou, melhor o reconforto. A tarde vai custar muito menos a passar. Ao contrário de mim, o Ricardo, que adora tomate de todas as maneiras e feitios, e para quem esta sopa estava óptima. Há dias assim, em que as opiniões divergem sobre os mesmos sabores. Ainda bem!