quinta-feira, 31 de março de 2011

Uma festa de despedida ...


Quando cheguei a mesa já estava posta e tudo pronto para começar a festa. A Carlota como sempre, fez uma mesa linda, desta vez decorada em tons de rosa, com as gerbérias a marcarem a diferença. A cada festa, a Carlota supera-se a si própria com os seus excelentes arranjos de mesa. A razão desta festa, a despedida de uma querida amiga que vai viver para o outro lado do Atlântico. Vamos sentir tantas saudades! Ela sabe o quanto gostamos dela e de como nos é muito especial!


Para esta festa vieram amigas de norte a sul. E quando nos juntamos a comida é sempre em fartura. A Gisela, trouxe do Alentejo uns magníficos enchidos, pão, pãezinhos de linguiça e o bolo das rosas.


A Ameixinha trouxe dois tipos de bolachinhas, umas doces e outras salgadas.


A Margarida, do seu reino dos Algarves, brindou-nos com um empada de galinha e vegetais, Muxama, chips de beterraba, cherovia e cenoura e para sobremesa um fantástico bolo de ruibarbo. A Manuela serviu-nos azeitonas em crosta, que são sempre um sucesso garantido, almôndegas de frango e cenoura e pão-de-ló com leite creme e amêndoas torradas.


A Helena deliciou-nos com beringela fumada com iogurte, lasanha e um pudim flan, a lembrar os sabores de outros tempos. A Pipoka trouxe um delicioso Caril de frango com banana e panna cotta de iogurte e erva-príncipe. A panna cotta estava tão boa, que quando virei costas, já não havia! :) A Gasparzinha colocou na mesa Favetta, Salada de Bulgur com couve, frango e laranja e uma irresistível Tarte de Uvas e Noz.


A Suzana um pão brioche fofo e delicioso recheado com mozzarella, presunto e manjericão e uns morangos acompanhados de um creme de chocolate e castanhas. Eu levei entrecosto assado no forno e um bolo de chocolate com courgette e avelãs.

A anfitriã surpreendeu-nos com dois pães recheados, Brie com amendoim, muffins de atum e pesto, Tarte de foie gras com figo e Bavarois de iogurte e mel.


No final, presenteou-nos - não tenho outra palavra para o descrever - com um espectacular bolo de chocolate com framboesas.


Como imaginam, esta festa foi uma verdadeira animação. Uma casa cheia de pessoas. Muita, muita conversa. E havia sempre alguém a provar mais qualquer coisinha ...


Tanta animação que nem deu para fotografar nem para provar tudo! ;)

A Ameixinha, depois das sobremesas ofereceu-nos uma pequena lembrança com um verso. Cada uma de nós, à vez, foi lendo os versos. Este foi um momento de muitas emoções. Aqueles versos acabaram por contar uma pequena história, a história dos muitos e bons momentos que temos passado juntas. Mais uma vez, tive a certeza que as pessoas que este blogue me tem dado a conhecer são mesmo, mesmo, muito especiais, com um enorme coração.

À minha amiga e para o seu novo começo, para a sua nova vida, votos de muito, muito sucesso! Nós continuaremos por cá. A amizade também se alimenta, mesmo quando estamos longe.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Arroz-doce de camomila


Sempre me lembro de a minha mãe fazer arroz-doce. Fazia-o e ainda faz, sempre numa versão muito simples, arroz, limão e açúcar. Uma ou outra vez, amêndoa moída. Na preparação desta sobremesa, adorava a altura em que a minha mãe colocava o arroz-doce nos pratos e depois, já frio, decorava com canela em pó. Com as mãos habilidosas desenhava, deixando cair a canela dos dedos, padrões, arabescos ou até corações. Eram momentos deliciosos. Curiosamente, arroz-doce nunca foi uma das minhas sobremesas preferidas. É raro perder-me de amores por arroz-doce. Nos últimos anos, tenho procurado contrariar a minha predisposição para com esta sobremesa, que até gosto, mas a que não tenho dado muita atenção.

A receita de arroz de camomila da Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa já estava na minha lista de receitas a confeccionar há já algum tempo. Quando recebi os meus pais e os meus sogros, para o almoço de aniversário do meu pai, esta foi uma das sobremesas que servi.

Ingredientes:
50g de flores de camomila
125g de arroz carolino
125g de açúcar
1L de leite gordo
500ml de água
1 casca de limão
sal e canela em pó q.b.

1. Levar a água ao lume até começarem a surgir as primeiras bolhas e retirar sem deixar ferver. Colocar as flores de camomila e deixar em infusão alguns minutos. Quando a água estiver com aparência de chá, coar as flores através de um passador e levar a água novamente ao lume, agora com o arroz e um pouco de sal.

2. Quando o arroz estiver quase cozido, reduzir o lume para o mínimo e deixar evaporar o resto da água.

3. Ferver o leite com a casca do limão. Juntar a pouco e pouco o leite ao arroz e deixar engrossar a mistura, mexendo ocasionalmente.

4. Quando alcançar a consistência desejada, juntar o açúcar e envolver. Retirar do calor, colocar num prato de servir e deixar arrefecer. Decorar com canela em pó.


Este arroz-doce fica muito agradável, a camomila confere-lhe um aroma perfumado, muito especial.

terça-feira, 29 de março de 2011

Manhãs Gloriosas ou o gosto por uma frittata


De vez em quando sabe bem quebrar a rotina e ir ao cinema ver um filme bem disposto, daqueles tipo fast food cinematográfico, se é que isso existe! :) O filme foi escolhido pelo Ricardo, que normalmente tem uma forte tendência para escolher filmes de guerra. Ainda hoje me custa ouvir falar do Black Hawk Down, já para não falar - que me desculpem os cinéfilos - do Apocalypse Now! É que não é só ver o filme. O pior é o que se segue. Compra-se o DVD e depois é: "E já viste esta cena? E aquela?". E quando vêm amigos cá a casa, a dose repete-se. Poderia não chatear ninguém com isso, mas insiste em partilhar e não há como lhe dar a volta! ;) Ao escolher este, Morning Glory, até me senti aliviada. :)

O filme é uma comédia romântica que retrata o dia-a-dia no programa Daybreak e da jovem produtora Becky Fuller, protagonizada por Rachel McAdams. Becky confrontada com as fracas audiências do programa, decide apostar em Harrison Ford, o veterano Mike Pomeroy do chamado jornalismo sério, que encara o programa com grande desprezo, mas que devido a cláusulas de contrato não se consegue desvincular. Deste modo é obrigado a apresentar Daybreak ao lado de Diane Keaton no papel de Colleen Peck, que é uma mulher bem disposta e extrovertida. Como se calcula, as desavenças entre os dois são constantes, tanto no ecrã como nos bastidores e Becky tem de intervir. Ao longo do filme vamos tendo algumas cenas bem divertidas, especialmente do responsável pela meteorologia. Mas hoje trago aqui este filme porque ali também se cozinha pela mão de Harrison Ford. Pouco, mas o suficiente para me ter despertado a vontade de fazer uma frittata.


Frittata de peixe com abóbora

Ingredientes:
6 ovos
1/2 cebola roxa cortada em meias luas
100 g de abóbora cortada em cubinhos
4 filetes de pescada cortados em pedaços
1 ramo de salsa
1/4 de pimento vermelho cortado tiras
5 colheres de sopa de leite ou natas
Sal e pimenta-preta q.b.


1. Colocar o azeite numa frigideira. Levar ao lume e saltear a cebola, o pimento e a abóbora. Por fim, adicionar os filetes cortados em cubos e deixar cozinhar. Antes de retirar do lume, adicionar um raminho de salsa picada.

2. Bater os ovos com o leite. Temperar com sal e pimenta a gosto.

3. Colocar o preparado de legumes com o peixe num recipiente de forno, forrado com papel vegetal. Regar com os ovos e levar ao forno.


Servir com uma salada de alfaces e tomate. Cá em casa, desapareceu num instante. De todos os sabores, o que mais sobressai é o do pimento.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Sopa de grão-de-bico e agrião


Um destes dias recebi uma caixa com agriões frescos apanhados numa ribeira, daqueles que ninguém plantou. Lindos, viçosos! Uma das primeiras coisas que fiz foi uma sopa, que encontrei no My Recipes. À ideia original apenas acrescentei abóbora.


Ingredientes:
1,5L de água
1 cebola picada
2 dentes de alho picados
2 cenouras cortadas
220g de abóbora cortada em pequenos cubos
600g de grão cozido
1 molho de agriões
sal q.b.

1. Colocar a água numa panela e levar ao lume. Adicionar a cebola e os dentes de alho. Deixar ferver um pouco.

2. Adicionar as cenouras e a abóbora. Deixar cozinhar os legumes.

3. Juntar o grão cozido e um os agriões, previamente arranjados.

4. Regar com um fio de azeite e temperar com umas pedrinhas de sal. Retirar do lume, assim que os agriões estejam cozidos.


A sopa fica muito agradável. O agrião com o seu sabor característico marca presença.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Perna de borrego assada no forno com azeitonas pretas


Apesar de não estar na minha lista de desejos para este ano, uma das coisas que tinha curiosidade em cozinhar era uma perna de borrego assada inteira no forno. Eu adoro carne de borrego e não sei bem porquê, a perna de borrego assada inteira sempre me revelou um certo encanto. Para assar a perna de borrego o livro, Olives & Oranges de Sara Jenkins e Mindy Fox, não indicava o tempo de forno, mas a temperatura da carne. Ora bem, se queria fazer a receita, estava na altura de comprar um termómetro para carne! :)


Ingredientes:
1 perna de borrego (aprox. com 2Kg)
100g de azeitonas pretas sem caroço
3 hastes de alecrim, apenas as folhas
3 dentes de alho
2 colheres de sopa de orégãos secos
sal
pimenta preta de moinho
2 colheres de sopa de azeite

1. Aquecer o forno a 125ºC.

2. Picar muito bem as azeitonas com as folhas de alecrim e os dentes de alho. Por fim, juntar os orégãos secos.

3. Fazer pequenas incisões na carne com a ponta de uma faca e colocar aí a mistura de ervas e azeitonas. Fazer isso em toda a perna. O que restar colocar por cima da carne. Temperar com sal e pimenta a gosto.

4. Colocar a perna num tabuleiro de forno. Regar com duas colheres de sopa de azeite e levar ao forno com o termómetro espetado na carne.

5. Retirar do forno quando a temperatura da carne estiver a 82ºC.



Usar o termómetro foi uma aventura. Primeiro, o ponteiro que indica a temperatura não mexia. Ou melhor, não mexeu durante sensivelmente uma hora! - Ricardo o termómetro não mexe?! O que achas que se passa?! - Dizia eu, em frente ao forno impacientemente. O Ricardo veio, olhou, confirmou que realmente não se tinha mexido, empurrou um pouco mais o termómetro na carne e disse: - Deve estar avariado. Não ligues! - Como é que eu podia não ligar!? E ali fiquei, a ver a carne a assar, o tempo a passar, e eis que o ponteiro se movimenta! Excelente, pensei eu. Problemas de quem usa um equipamento pela primeira vez! ;)

Esta perna de borrego foi feita para o almoço de um daqueles domingos de acordar tarde e ficou óptima. A carne ficou suculenta e muito saborosa.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Apanhar espargos, a origem de um desejo


A origem do meu desejo de apanhar espargos bravos começou, acredito eu, num texto de Francisco José Viegas publicado na já extinta Grande Reportagem, na sua coluna O Cozinheiro Ideal, que partilho aqui:

«"Estou tão contente por não gostar de espargos", diz uma menina num dos contos de Lewis Carroll. "Se gostasse teria de comê-los", responde o amigo. Os espargos são uma lenda campestre e volto a eles - verdes, colhidos no campo, só em meses de chuva. Eu sei que o leitor mal tem tempo para caminhar, quanto mais ir colhê-los ao campo, embrulhado em botas e mal protegido das intempéries. Nas estradas de província, no Douro ou no Alentejo (de onde vêm os melhores), há quem os venda aos molhinhos, a cinco euros, preço médio na sua época. Juntamente com as azedas do Douro, que crescem nos muros, e as melhores saladas de Primavera exigem (e, dirá o leitor mais afectuoso, as labaças para juntar aos ovos, as beldroegas para a sopa e para a salada, o cardo para a sopa), os espargos são mais do que essa lenda e a sua utilidade; a sua existência cumpre uma mitologia desregrada e saudável, mesmo que saibamos que responde pelo nome asparagus Lenuifolius, o que não nos deve afastar do essencial que é o seu sabor.
      Vamos, pois, aos asparagus Lenuifolius. Lavem-se os espargos do molhinho, verdes e fibrosos, corte-se a parte mais rija do caule e mergulhem-se em água por cinco minutos (podem juntar-se umas gotas de vinagre durante o banho de imersão). A seguir vem o alho, de que devem picar-se três dentes, que deve estar a aquecer numa frigideira (de ferro é preferível, senhores). Juntem-se os espargos quando o alho amarelecer sem queimar, e deixe-se frigir o conjunto enquanto se batem os ovos, com sal, pimenta e mais nenhuma outra invenção - são eles que devem amaciar os espargos, daí a menos de cinco minutos, até ficarem apenas cremosos. É uma benção, desde que o pão com que são comidos seja de boa qualidade. Depois disto, qualquer espargo de lata sabe a salbutamol ou benzofluoranteno. Sabe o que é?»

As crónicas sobre gastronomia de Francisco José Viegas, na Grande Reportagem, fascinavam-me. Adorava as palavras, as receitas, o modo como nos transmitia a sua paixão pela comida. Não sei se continua a escrever sobre gastronomia em alguma publicação nacional - se souberem, avisem-me s.f.f.! - mas eu guardei cuidadosamente as suas crónicas. Com a mudança de casa tive que me desfazer da colecção de revistas da Grande Reportagem, mas as crónicas do Francisco José Viegas dos números em que ele colaborou foram resgatadas e guardadas. Ao reler novamente a crónica sobre os espargos, decidi que seria este ano, o ano em que iria ao campo apanhar espargos. E assim nasceu um desejo, que entretanto foi concretizado pela mão da Cristina Lebre, em Estremoz.


Mas da crónica do escritor Francisco José Viegas surgiu também a vontade de fazer ovos com espargos bravos que tão deliciosamente descreve. Quando visitei o mercado de Estremoz, não resisti e comprei um molho de espargos na banca do senhor Henrique.



Ingredientes:
1 molho de espargos-bravos
6 ovos
3 dentes de alho
sal e pimenta preta de moinho q.b.
manteiga
fatias de pão para servir

1. Lavar os espargos. Retirar parte do caule duro.

2. Escaldar os espargos durante cinco minutos em água a ferver.

3. Picar os dentes de alho.

4. Colocar a manteiga numa frigideira e levar ao lume. Assim que a margarina derreter adicionar os dentes de alho e deixar frigir um pouco, sem que o alho queime.

5. Adicionar os espargos cortados grosseiramente. Deixar cozinhar um pouco.

6. Bater os ovos com sal e pimenta a gosto. Juntar os ovos com os espargos na frigideira. Mexer e deixar cozinhar até os ovos estarem prontos.

7. Servir os ovos mexidos com as fatias de pão.


Uma benção! Os espargos ficam crocantes, estaladiços, proporcionando explosões de sabor. Em relação à receita original apenas substituí o azeite pela manteiga.
Eu já tinha experimentado fazer estes ovos usando um molhinho de espargos de compra e realmente não tem nada a ver. Então com espargos de lata nem se fala!

terça-feira, 22 de março de 2011

Missão Laranjinha: Entre poejos e uma cozinheira de mão cheia


A última etapa da Missão Laranjinha foi passada em casa da Cristina e do João em Estremoz. Começámos por preparar várias iguarias para o nosso jantar. Mas entre a preparação do jantar, havia uma surpresa. Eu ia fazer massa fresca. Ah, pois é! Sem apelo nem agravo! A máquina foi colocada na mesa da cozinha e a Cristina pacientemente mostrou-me como deveria preparar a massa: 100g de farinha, fazer uma covinha na farinha e adicionar um ovo daqueles bem fresquinhos e de preferência de galinhas felizes, uma pitada de sal e um fio de azeite e amassar bem a massa. Perante o meu desastrado amassar - ou mimoso nas palavras da Cristina :) - acabou por me aconselhar: "tens que sentir a massa!".


Colocar os pedaços da massa na máquina para esticá-los e depois vê-los sair cortados, é realmente uma agradável experiência. Há quem diga que eu cantarolei tal era o meu nervosismo, mas por enquanto ainda não apareceram as provas definitivas! ;) Obrigada Cristina, por me ajudares a concretizar mais um objectivo para 2011.

A massa foi cozida al dente e servida com amêijoas abertas em azeite e dentes de alho esborrachados, uma sugestão da chef Alice. Por fim, acrescentou-se queijo parmiggiano reggiano ralado e folhas de manjericão. A massa fresca fica a anos luz da massa seca e feita por nós então, o sabor é mesmo outro.

A Cristina para este jantar foi incansável e revelou-se uma cozinheira de mão cheia. Tanto que até a aconselhei a criar um blogue e divulgar a boa cozinha alentejana. Se ela aceitar o desafio, pode contar já com uma fã!

A mesa de jantar estava pronta, com uma toalha branca bordada e um arranjo de cinco laranjas estrategicamente colocado. Este arranjo combinava com as laranjas colocadas na escadaria da entrada da casa, que me surpreenderam logo à chegada. A mesa encheu-se com ovos mexidos com os espargos que apanhámos ao final da tarde, queijo fresco caseiro que tem logo uma consistência diferente, farinheiras branca e preta - acho que nunca tinha comido farinheira de sangue! - confeccionadas por mão alentejana, queijo ovelha curado derretido com orégãos, azeitonas, temperadas na água com folhas de louro, casca de laranja e orégãos, e pasta de chouriço que estava uma delícia. Tivemos também Cabeça de Xara cortada em fatias finas e servida com umas gotinhas de limão, de que fiquei fã.


Para além da massa fresca, a Cristina ainda serviu cação com amêijoas e migas de batata, que poderia tentar descrever com vários adjetivos, mas só vos digo que estava óptimo. É o tipo de prato que se fica com vontade de repetir. Quem nos visse a comer, não diria que tivemos um almoço farto. Com tanta coisa boa, era impossível não provar de tudo um bocadinho. ;)


Acompanhámos a refeição com um vinho branco Quinta das Carrafouchas 2009 e um tinto Quinta do Mouro 2005, uma selecção do João, marido da Cristina.

Para sobremesa fomos surpreendidos com um pudim de poejo servido com poejo frito envolvido num polme que ficou crocante e que deu imensa alma ao pudim, do livro Entre Coentros e Poejos do chef António Nobre, que desde já recomendo. É um livro a sério, especialmente para quem aprecia a cozinha alentejana. Este foi uma presença constante durante a preparação do nosso jantar, tanto para o pudim de poejo, como para a receita de cação, assim como para umas deliciosas peras cozidas em licor e servidas com queijo derretido. Para quem dizia que estava cheia, acabei por comer o queijo todo e boa parte da pêra que dividi com o Ricardo. Estava mesmo boa! Por fim, provei ainda uma generosa fatia do bolo Russo, inspirado nos bolos russos típicos da zona e que bilhete a bilhete, colocados nos saquinhos de musselina com casca de laranja seca, fui descobrindo a receita. Acompanhámos o bolo com um licor Fradetine bem antigo.


A conversa prolongou-se noite dentro. Falámos sobre comida, sobre Anthony Bourdain e a sua Cozinha Confidencial, do chef espanhol José Andrés e do romance Cinco Quartos de Laranja, de Joanne Harris. Eu e a Cristina descobrimos que temos imensas coisas em comum, uma dessas coisas é até o nosso primeiro livro de cozinha.

E no quinto e último saquinho de musselina, um bilhete e um poema:

"- Aprende a envelhecer tranquilamente,
Colhe da vida o que ela te quer dar ...
Envelhecer assim não custa nada:
É como quem procura, no poente,
A estrela que brilhou na madrugada ..."

Maria de Santa Isabel

Colhe da vida o que ela te quer dar! Obrigada Cristina, por todos os momentos que vivi em Estremoz! Obrigada por me teres encontrado. Obrigada por me teres feito sentir especial e muito acarinhada.

Espero que esta história não termine aqui.

domingo, 20 de março de 2011

Desafio "Conte-me a sua Receita"


A Rádio Televisão Portuguesa e o Cinco Quartos de Laranja, na semana do lançamento do livro de receitas Conta-me como foi - As receitas da família Lopes, da conhecida série da RTP, Conta-me como foi, promovem um desafio de 21 a 27 de Março.

O desafio intitula-se Conte-me a sua Receita e tem como tema as receitas dos anos 60 e 70. Pretende-se apenas receitas:
  1. alusivas ao tema (anos 60 e 70);
  2. com fotografia;
  3. que nos conte uma história. A história serve para contextualizar a receita, quem a costumava fazer (ex.: avó, tia, mãe, etc.) e onde ou quando era normalmente comida (ex.: festa de anos, Natal, do dia a dia, etc.).
As receitas deverão ser publicadas nos respectivos blogues, com indicação do evento e deverão enviar um eMail com o assunto Conte-me a sua Receita, mencionando o título da receita e o link de publicação. Deverão enviá-lo para:


Quem não tiver blogue e quiser participar poderá fazê-lo através da página no facebook do Cinco Quartos de Laranja. Serão oferecidos três livros e os critérios de seleção são: a receita, a fotografia e a história. Os contemplados serão contactados pela RTP. No dia 1 de Abril publicarei aqui a lista de receitas ordenada pela ordem de chegada.

Resolvi aceitar a divulgação deste desafio porque gosto da série, ajuda a compreender um pouco mais a nossa história recente, o modo de vida dos anos 60 e 70 e como se foram dando algumas alterações. Sinto que esta série tem um bocadinho da vida de todos aqueles que viveram nesses anos.

Nasci nos anos 70 e com este desafio fui-me lembrar da comida da minha infância. As coisas boas que me marcaram, os pratos, os doces e as compotas que a minha mãe fazia. Houve uma altura em que o pão-de-ló fez parte da minha infância. O engraçado, é que actualmente, quando penso em fazer um bolo não me vem à cabeça um pão-de-ló, especialmente agora que se encontram facilmente à venda, fruto da industrialização. No entanto, tenho recordações agradáveis quando penso neste bolo. Lembro-me que a mãe fazia regularmente pão-de-ló, tanto para dias de festa como para o dia-a-dia. Era O Bolo lá de casa! :)

Naquele tempo, tínhamos um galinheiro ao fundo do quintal. Às vezes, íamos tirar os ovos às galinhas e ainda vinham quentinhos. Quando se é criança todas estas pequenas coisas têm imensa graça. E quando encontrávamos ovos com duas gemas? Uma delícia! A minha mãe costumava fazer gemadas e pão-de-ló. Torci sempre o nariz às gemadas, mas em relação ao pão-de-ló, não! Em casa da minha avó Ermelinda, mãe da minha mãe, o bolo de eleição também era o pão-de-ló que ela acompanhava religiosamente com café de cevada. Ainda me lembro do cheiro do café, a que se tinha de deixar assentar a borra. Em homenagem à minha mãe e à minha avó, cujos cozinhados me marcaram, hoje, aqui fica a receita de pão-de-ló.


Ingredientes:
6 ovos
o mesmo peso dos ovos de açúcar
metade do peso dos ovos de farinha

1. Bater os ovos muito bem.

2. Adicionar o açúcar e bater novamente muito bem.

3. Envolver a farinha cuidadosamente.

4. Untar uma forma de buraco com manteiga e levar durante 40 minutos ao forno pré-aquecido a 190ºC.

Servir com chá ou café. Quem preferir também pode bater o pão-de-ló com duas a três casquinhas de limão que deverão ser retiradas antes de colocar o bolo no forno. O pão-de-ló fica excelente se for recheado com compota a gosto.

Ao dinamizar este desafio, a RTP gentilmente ofereceu-me um exemplar do livro de receitas Conta-me como foi - As receitas da família Lopes. E vocês? Aguardo as vossas participações até à meia noite do próximo dia 27 de Março. Participem!

sexta-feira, 18 de março de 2011

Missão Laranjinha: Restaurante A Cadeia Quinhentista e apanha de espargos bravos


Depois de todo o entusiasmo que vivi na manhã de sábado pela Mercearia Gadanha e pelo mercado, eis que a minha anfitriã, Cristina, e o João, seu marido, nos conduzem até uma nova etapa da Missão Laranjinha em Estremoz. O local escolhido para almoçarmos foi o restaurante A Cadeia Quinhentista, no alto da cidade, dentro das muralhas do castelo.

O restaurante está situado num edifício do século XVI, onde funcionou a Cadeia Comarcã de Estremoz. Um local cheio de histórias, muito bem recuperado, não perdendo a identidade. O edifício foi adaptado às suas novas funções com extremo bom gosto. Uma das coisas que me chamou a atenção assim que entrei, foram as cadeiras com as costas inspiradas no gradeamento da prisão. De seguida, subi ao primeiro andar para conhecer a sala de eventos e espreitar a garrafeira, fechada com porta gradeada, de onde sobressaía uma imponente garrafa de Mouchão. O restaurante possui também um bar e uma esplanada, que nos dias quentes de Verão deve ser muito aprazível.

Já sentados e a olhar para a ementa, o senhor João Simões, chefe de sala e dono do restaurante, cumprimentou-nos e na sua inexcedível simpatia explicou-nos um a um os pratos da ementa. Depois de o ouvirmos, ficámos com vontade de experimentar tudo. Não havia nada na ementa que não fosse apelativo. :) Enquanto nos decidíamos, foi-nos servido uma bebida, Kir Royal, azeitonas com raspas de laranja, manteiga e pão alentejano e um amuse-bouche de degustação composto por coelho em redução de vinagre balsâmico e queijo feta com azeite, mel, maracujá e alecrim. Gostei do coelho, mas o feta estava divino, com o sabor do alecrim a sobressair no fim. Aprovadíssimo! Uma das entradas escolhida foi uma salada de favas tenrinhas, cheias de sabor, muito agradáveis. A outra entrada - ai ... ai ... nem vos digo! - foram umas vieiras em concha gratinadas com coentros frescos. Como se costuma dizer, estas vieiras "eram de lamber os dedos"! Que coisa boa! :)

Para regar a nossa refeição escolhemos um tinto Dona Maria de 2007 da casa Júlio Bastos.


Os pratos principais portaram-se todos muito bem. Foram eles, raia do Atlântico corada em azeite com coentros frescos, sela de veado no forno com alecrim e perdiz suada em azeite. A cada prato uma boa surpresa. Bons ingredientes, óptimo aprumo de confecção. A mão da Chef Alice Pola valoriza a cozinha tradicional alentejana dando-lhe uns toques de inovação. Usa os produtos da região, as ervas aromáticas e nas sobremesas responde com a doçaria conventual. Em cada prato há um toque de autor, um pedacinho de magia.


Para sobremesa tivemos pudim de água e fisálias com frutos vermelhos que ajudam a cortar o doce e sopa dourada de Santa Clara, confeccionada com gila, laranja e pão-de-ló muito fofinho. Ambas as sobremesas estão interditas a gulosos! ;)


Antes de terminarmos a refeição ainda nos foram servidos licores, um de bolota, com um agradável e convidativo aroma a avelã, e outro de poejo, que deixava sobressair um delicado travo a mentol, tão característico desta erva. O café foi acompanhado com um interessante bombom de cacau.

Fiquei fã da Chef Alice, que com a sua simpatia, delicadeza e cozinha me conquistaram. A Chef Alice coloca ternura na confecção dos seus pratos. Toda a equipa do restaurante A Cadeia Quinhentista nos recebeu com imenso carinho. Fizeram-nos sentir tão bem ao servirem magnificamente esta refeição. Um obrigado muito especial ao Bruno, ao Miro e à Alexandra pela paciência e pela ajuda na captação de imagens. Este restaurante é um espaço onde a harmonia entre a cozinha e o serviço, funciona na perfeição. Só com muito empenho, dedicação e gosto pelo que se faz, é que se chega a este patamar de qualidade.

Ao entrar no restaurante a Cristina deu-me mais um saquinho de musselina com laranja seca e um bilhete. As palavras eram sobre Estremoz, sobre A Cadeia Quinhentista e acima de tudo sobre a Chef Alice que, costuma disponibilizar o seu tempo para partilha de receitas, para dar dicas sobre pratos e que se sentou connosco no início e no fim da refeição. Assim que saímos do restaurante, voltei a receber mais um saquinho de musselina, o quarto, que dizia por entre as indicações da receita: "É preciso sol para apanhar espargos (...), o sol mostra a sombra do espargo que parecem pauzinhos espetados na terra cor de barro!" Espargos? Saímos do restaurante ao final da tarde. O sol já se começava a esconder mas ainda não era de noite. Um campo com espargos estava à minha espera. Yupi! :)


Quando chegámos a um terreno com oliveiras, foi-me apresentada a esparragueira, a planta que dá o espargo. As primeiras não tinham espargos. Mas depois a Cristina e o João foram encontrando. Chamaram-me para eu ver e explicaram-me como os deveria apanhar. Conseguem imaginar o meu entusiasmo? E quando, eu comecei a descobrir espargos por mim? Fantástico! Uma experiência muito especial. Mais um desejo para 2011 concretizado.

Não vos disse, mas o quarto bilhete deixou-me um pouco nervosa. Naquelas linhas foi-me dito o que iria fazer a seguir na cozinha. Esta história ainda não acaba aqui! ...

quarta-feira, 16 de março de 2011

Missão Laranjinha em Estremoz


- Bom dia, eu sou a Laranjinha!

Esta foi a frase chave para o desencadear da missão com o mesmo nome no Alentejo, mais concretamente na cidade de Estremoz.

A primeira etapa desta missão começou na Mercearia Gadanha, uma loja gourmet, com produtos tradicionais, especialmente enchidos, azeites e outros, como por exemplo bombons de chocolate, chás e diferentes tipos de sal. E onde também se pode petiscar. Após dizer a senha da missão recebi um saquinho de musselina atado. Sentei-me numa das mesas que foi em tempos uma barrica. Entretanto serviram-nos, o Ricardo também me acompanhou, dois cafés e dois Gadanhas. Gadanhas são umas queijadinhas de amêndoa deliciosas. Mesmo antes de tomar o café as minhas mãos não pararam até conseguir abrir o saquinho de musselina. O meu coração pulava de entusiasmo. Lá dentro descobri laranja seca, que deita um cheirinho tão agradável, e um bilhete. O bilhete começa com uma frase de Alfredo Saramago, "A cozinha é uma arte de circunstância e, no tempo presente, a cozinha tradicional é horizonte de muitas procuras e desejado encontro" e estava escrito ao estilo do livro de receitas da mãe de Framboise, personagem do livro Cinco Quartos de Laranja de Joanne Harris, que tanto me fascinou. Um pedaço de história, uma contextualização com intermeios de uma receita. Naquele momento transbordei de alegria. Era tão especial o que me estava a acontecer. Senti-me a personagem principal de uma história que uma leitora me estava a proporcionar. Quando saí da mercearia, na minha cabeça formulou-se uma pergunta: O que pensaria Joanne Harris de tudo isto?


Depois de perceber entusiasticamente que mais momentos me aguardariam, passei pelo mercado de Estremoz, tal como me foi indicado. A missão Laranjinha tinha ali uma etapa. Dirigi-me à venda do senhor Henrique e da mulher e voltei a dizer: - Bom dia, eu sou a Laranjinha! O senhor sorriu, foi ao fundo buscar algo e eis que me entrega mais um saquinho de musselina com laranja seca, com alguns pedaçinhos queimados, o que lhe dava um cheiro diferente mas agradável, e uma indicação. Deveria escolher um arranjo de malaguetas. Lindas. Mais uma vez as minhas mãos não perderam tempo e quiseram abrir o saquinho de musselina. O que diria este segundo bilhete? Mais alguns ingredientes para a receita e apontamentos pessoais. É ali que a minha anfitriã faz as suas compras. É ali que se delicia com a conversa com o senhor Henrique e a mulher sobre receitas, ingredientes, que descobre novos produtos. Mais uma vez, fiquei sem palavras. Cada momento estava a ser tão especial. Único. Quanta imaginação, quanto empenho foram colocados nesta missão! Tudo foi pensado ao pormenor.


Ao andar pelo mercado encontrei espargos selvagens. Espargos selvagens! - acho que foi a primeira vez que vi. São tão diferentes dos espargos que vemos à venda, cá em Lisboa. Encontrei pelo menos uma vendedora só com espargos, mas estavam à venda em várias bancas. No mercado vi favas, maçãs bravo-esmolfe, massa de pimentão caseira, queijos com orégãos, enchidos, legumes fresquinhos, cogumelos, coelhos e galinhas vivos. Encontrei também louça em barro vermelho, alguidares, pratos decorados. Estremoz tem tradição na barrística. Os mercados reflectem em parte a alma das regiões. Mostram um pouco da vida e dos costumes de cada local. O que me atrai em cada mercado são as diferenças.


Da visita ao mercado seguimos até à loja das famosas irmãs Flores. Na loja encontramos os bonecos tradicionais e até dá para espreitar a oficina onde ganham vida. No sábado, as gentes de Estremoz, souberam que andava por ali uma Laranjinha numa missão muito especial. :)


Depois de passearmos pela cidade, onde o branco impera e contrasta com ruas cheias de laranjeiras, dirigimo-nos novamente a casa da Cristina Lebre, a mentora de toda a Missão Laranjinha e que carinhosamente me convidou.


Esta história não termina aqui! ...

segunda-feira, 14 de março de 2011

A caminho de Santiago de Compostela


Chegámos a Santiago de Compostela, capital da Galiza, na terça-feira de Carnaval de manhã. O dia estava muito bonito, cheio de sol, mesmo convidativo ao passeio. O primeiro local que escolhi para visitar foi o mercado. Sempre que viajo procuro conhecer os mercados dos locais por onde passo. A variedade de produtos, a apresentação, as pessoas nas compras, todo o ambiente dos mercados me cativa. Este era pequeno, estava organizado por espaços e edifícios. De um lado peixe, do outro carne, num outro edifício os legumes, queijos e enchidos. Em termos de produtos, os que me chamaram a atenção foram a carne de porco salgada, especialmente ossos, cabeça e toucinho branco alto e os queijos. A região da Galiza produz os famosos queijos Tetilla, com uma forma muito engraçada. :) No mercado comprei sementes de açafrão, vamos ver como se dão por cá. Serão semeadas em finais de Abril ou no princípio de Maio. Percebi que é uma planta que precisa de cuidados. Depois conto a experiência.

Em Santiago andámos pelas ruas, visitámos a respectiva Catedral, presenciámos na praza do Obradoiro a chegada de um pequeno grupo de peregrinos portugueses dos cerca de 100.000 de todas as nacionalidades que se dirigem a Santiago de Compostela por ano. À medida que o grupo foi chegando, foi emocionante ver como se sentiam felizes por terem cumprido o seu objectivo. Abraçavam-se, perguntavam uns pelos outros e no meio disto tudo, quase todos choravam.


Almoçámos no restaurante Orella. Eu pedi uma Sopa de Marisco e o Ricardo preferiu um Caldo Galego. Uma delícia de sopas. A sopa escolhida pelo Ricardo fez-me lembrar algumas das sopas da minha mãe, com batata e couve, mas com um caldo cheio de sabor. A sopa de marisco era um caldo cheio de berbigão, amêijoas e mexilhões. De seguida, pedimos polbo á feira (polvo à galega) e mexilhões ao vinagrete. Mais uma vez, a cozinha galega nos surpreendeu pela excelente qualidade dos pratos. O polvo tenrinho e delicioso e os mexilhões frescos e suculentos.


As pastelarias e as lojas em Santiago de Compostela revelaram-se uma constante tentação. Quis provar a famosa torta de Santiago. Esta é uma tarte feita à base de amêndoa que um destes dias quero reproduzir. Só me falta arranjar o molde da cruz (da ordem) de Santiago. Provei ainda chocolate cor-de-laranja. Uma tablete de chocolate com esta cor chama logo a atenção de qualquer laranjinha! ;)

À tarde, seguimos viagem até ao cabo Finisterra, que significa o fim da terra, e é o ponto mais ocidental de Espanha. É aqui também que termina o caminho de Santiago. Ao longo da viagem, foi interessante ir observando os recortes da costa e todas as localidades com praia, que no Verão provavelmente se enchem de veraneantes. A vista do cabo é fabulosa. Ali sentimo-nos pequeninos perante a imensidão de mar.


Para jantar fomos até à Corunha. Uma visita rápida de carro pela cidade, as baías. Aqui optámos por, como diz uma amiga, "tapear".

No último dia desta nossa pequena incursão pela Galiza, saímos do nosso alojamento, uma sossegada e muito bem decorada casa rural, Casal dos Celenis. Aqui conhecemos a Paula, uma simpática galega que fala e estuda português. Ao receber dois lusitanos, a Paula entusiasmou-se e colocou em prática os seus conhecimentos. De tal forma, que no último dia a avó, uma senhora aparentemente reservada, chegou-se ao pé de nós e disse apontando para a neta: "É portuguesa?!". :) No jardins da casa descobri uma laranjeira que também é limoeiro ou será um limoeiro que é laranjeira? A enxertia tem destas coisas!


A nossa última paragem antes de regressar a Lisboa, foi na cidade de Vigo. Aqui comemos uma das melhoras sopas de alho que me lembro de alguma vez ter comido. Excelente, com farrapos de ovo e alhos fritos laminados.


Em Vigo subimos até ao Monte do Castro, onde tivemos uma vista magnífica sobre a cidade e o porto. Vigo pareceu-me um centro de negócios moderno, com bastante movimento. Depois de assistirmos à colocação de alguns enfeites de Carnaval numa das ruas principais, de visitarmos algumas lojas de produtos para a casa, rumámos em direcção a Portugal.

sábado, 12 de março de 2011

Do Minho à Galiza


No passado domingo visitei Viana do Castelo. Comecei por descobrir os doces típicos de Viana na pastelaria Natário, uma referência na cidade, visitada em tempos pelo escritor Jorge Amado que ficou cliente. A acompanhar um café escolhi um pastel Santa Luzia, ou não fosse eu nessa manhã visitar o Templo do Sagrado Coração de Jesus também conhecido por Basílica de Santa Luzia. Ainda em Viana provei as famosas Bolas de Berlim e um Sidónio, entre uma grande oferta de doces tradicionais.

Na Basílica, subi até ao zimbório, de onde se tem uma vista fantástica. Subir até subi, mas depois a descer é que as minhas pernas nunca mais foram as mesmas! ;) Viana do Castelo é uma cidade que achei bonita, limpa, com referências ao passado, especialmente a Praça da República, por onde gostei particularmente de passar. As flores são uma presença nas ruas de Viana. Encontramos canteiros floridos desde as ruas principais até às mais pequenas.

Nesse dia o almoço foi no restaurante Camelo em Santa Marta de Portuzelo, uma referência da cozinha minhota na região. O restaurante divide-se por várias salas. Quando chegámos eram quase duas horas e estavam todas as salas cheias, com lista de espera. Depois de aguardarmos, sentados à mesa começámos o nosso almoço com umas moelas guisadas, tenras e apetitosas. O Ricardo pediu Arroz de sarrabulho com rojões e enchidos. Hummm, o arroz tinha um delicioso cheiro a cominhos!

Eu pedi Galo caseiro "Pé descalço" com arroz de cabidela. Galo "Pé Descalço" - achei uma delícia este nome - lembrei-me logo de um episódio da nossa história, a revolta popular da Maria da Fonte no século XIX, nesta região, feita por populares de pés ao léu contra a lei que proibia os enterros nas igrejas.


Os pratos vieram muito bem servidos, tanto que nem metade conseguimos comer. Acompanhámos a refeição com um vinho tinto Quinta da Pacheca de 2008. Achei curioso, que em muitos restaurantes o prato do dia, no domingo, era cozido à portuguesa. Por cá, não me tinha apercebido desta tradição.

Depois de Viana do Castelo a nossa viagem seguiu até Caminha, onde decorria o evento Caminha Doce. Em Caminha gostei da praça central, cheia de esplanadas e muita gente. Graças ao evento Caminha Doce, sentia-se um ambiente de festa em todo o lado. Tendas com venda de artesanato, pão cozido em forno e num café, junto à esplanada, até vi um porco assado no espeto. A carne de porco cozinhada assim, fica muito saborosa.


Ainda tivemos tempo para um passeio ao pôr-do-sol junto à foz do rio Minho. Adoro estar perto da água, caminhar na areia, sem pressas, é tão relaxante.


No dia seguinte, parámos em Vila Nova de Cerveira, que achei uma localidade muito bem cuidada. Mais uma vez reparei na praça central, com esplanadas, mesmo convidativa a ficar.


Passámos ainda por Valença. Valença foi uma surpresa, as ruas estão cheias de lojas, especialmente dedicadas aos atoalhados, turcos, restaurantes, etc, tudo muito virado para o turista espanhol. De Valença, atravessámos o rio Minho e seguimos viagem para a Galiza.


Pontevedra foi a primeira cidade galega onde parámos. A minha vontade de ir almoçar era tanta, que o pobre do Ricardo já não me podia ouvir. Com fome, sou impossível! É o que dizem. ;) Antes de visitar a cidade, o melhor era definitivamente ir almoçar! O dia estava solarengo, mesmo convidativo a uma refeição ao ar livre. Escolhemos o restaurante Cáncamo Mariscos, junto a um jardim, próximo da Praça de Espanha. Da ementa pedimos uma empanadilha de atum com ovo cozido, calamares e polvo à Galega.


O polvo era tenrinho, delicioso. Uma das coisas que acho curioso por toda a Galiza é o modo como confeccionam o polvo. A pele não se desfaz depois de cozido. Tentei perceber como cozem o polvo e acho que o segredo está no facto do polvo ser cozido lentamente, mas não tenho a certeza. Já agora, alguém sabe?


Em Pontevedra, achei curioso que em muitas pastelarias tinham à venda Orejas de Carnaval. E nós, qual é o nosso doce de carnaval? Temos tradições gastronómicas de Carnaval?