Vivemos numa época em que se fala muito sobre alimentação. Os escaparates das livrarias estão cheios de livros de dietas ou com dicas sobre como podemos mudar ou melhorar a maneira como comemos. Desde que comecei o
Cinco Quartos de Laranja, há 11 anos atrás, sinto que também fui mudando a minha alimentação.
Houve uma altura em que tomava café com açúcar e achava que nunca iria conseguir deixar de o fazer. Como adoro café, ao final do dia chegava a contar cerca de 35g de açúcar ou mais, só para os cafés que bebia. Uma quantidade absurda! O consumo de açúcar recomendado por dia, incluindo os açúcares da fruta e dos hidratos de carbono complexos, anda à volta dos 50g, de acordo com a
Organização Mundial de Saúde. Consciente dos perigos do consumo exagerado do açúcar refinado, tomei a decisão de deixar de tomar café com açúcar. Comecei por ir reduzindo aos poucos a quantidade que ia colocando no café. Chegou a uma altura em que só colocava uma colher de café de açúcar nos meus cafés. Um dia, depois de comer com entusiasmo uma boa tranche de marmelada, decidi que os meus dias de café com açúcar tinham terminado. E assim foi! Houve ainda, durante este processo, momentos, devido ao hábito, em que cheguei a colocar o açúcar do pacotinho no café, mesmo sem o mexer, e já não fui capaz de o beber! Tão doce! A verdade, é que nunca mais tomei café com açúcar.
O chá, desde sempre, tomei sem açúcar. Como dizia Paracelso, é a dose que faz o veneno. O doce satisfaz o palato, oferece-nos uma sensação de bem estar e conforto, eleva os nossos níveis de felicidade, mas, como em tudo na vida, deve ser consumido com conta, peso e medida. É importante estar atento aos rótulos dos produtos que se compram. É importante irmos habituando o nosso palato a coisas menos doces. Produtos como bolos, bolachas, pão, sumos e néctares, refrigerantes, iogurtes, os chamados produtos
light, entre muitos outros, incluindo salgados, têm muitas vezes quantidades absurdas de açúcares escondidos. O açúcar nos produtos industrializados é também uma forma de conservante. Em relação às alternativas, ditas mais saudáveis, como adoçantes, xaropes,
stevia, entre outros, não devemos pensar que não são açúcares e que os podemos comer de forma tranquila, como se não tivessem também os seus perigos. Gosto de coisas doces e vou continuar a comer coisinhas doces. O importante, é termos consciência do que comemos e do modo como o fazemos, se é de forma pontual ou de forma regular e abusiva.
Outros dos aspectos que mudei foi a inclusão de mais legumes às refeições. Cá em casa, por norma, há sempre salada de verdes como acompanhamento. Há muito que deixei de colocar sal nas saladas. Quando não faço salada, opto, muitas vezes, por legumes cozidos, grelhados ou assados no forno. Tento variar os legumes e as frutas que comemos. Se numa semana compro couve coração de boi, brócolos, alho-francês e espinafres, na semana seguinte tento comprar outras hortaliças. Com isto não quer dizer que não haja umas quantas que fazem sempre parte do carrinho de compras habitualmente, como as cenouras e as curgetes, por exemplo. Mas a ideia é variar, tanto nos legumes como nas frutas que comemos durante a semana. É importante reconhecermos que, segundo um provérbio japonês, « a comida é como um remédio ».
Tenho um armário na cozinha cheio de especiarias e ervas secas. Adoro usar ervas aromáticas frescas nos meus pratos. Tenho junto à janela da cozinha um pequeno jardim, com vasos com tomilho, manjericão, hortelã e alecrim. Sempre que preciso tenho ali logo à mão estas ervinhas que tanto sabor dão aos nossos cozinhados. Usar especiarias e ervas nos cozinhados é um hábito a cultivar. E temos tantas à nossa disposição!
Outra das coisas que procuro fazer é incluir leguminosas nas refeições cá de casa. Grão-de-bico, feijão, lentilhas das várias cores que encontramos à venda, entre outras. Quando tenho tempo, cozo previamente, congelo e depois vamos usando. Ao longo destes anos tenho, também, procurado não misturar hidratos de carbono no mesmo prato.
A comida é um prazer. Comer traz-nos a sensação de bem-estar. Com boa comida vive-se de forma mais digna. E na mesa, o importante é tentarmos sermos felizes, não apenas porque sim ou porque vale a pena seguir as tendências, mas porque queremos viver melhor, com uma alimentação mais equilibrada. A receita de hoje é uma forma de procurarmos o equilíbrio, cá em casa, mas sem descurar os prazeres do palato!