Compro, algumas vezes, pão nas padarias e supermercados. Compro principalmente quando vejo um pão com uma combinação, ou um ingrediente, que me desperta a curiosidade. Por exemplo, há uns anos passei por Aveiro, e não resisti a comprar pão com algas. Gosto de comprar pão quando visito alguma cidade. Compro pão, de vez em quando, para consumirmos no dia-a-dia ou para fazer alguma receita que pede um determinado tipo de pão. Mas, a verdade, é que desde que comecei a
fazer pão em casa, passei a olhar para este alimento de outra forma. E já não sou só eu. A família, sempre que há um almoço ou jantar, ao pegar o pão que está na mesa, pergunta logo: «
Foste tu que fizeste? ». O pão feito em casa é único e verdadeiramente especial. Tem sempre um sabor diferente, intenso, guloso e podemos fazer mil e uma combinações de ingredientes.
Fazer pão em casa, pode, à partida, parecer complicado. Juntar as farinhas, escolher a levedura, acertar a quantidade de água, o sal. Amassar. Deixar a levedar. Perceber se já está lêvedo, ou se já levedou demais. Enrolar e colocar o pão no forno. As massas têm os seus caprichos que mudam do Verão para o Inverno, dos dias secos e quentes para os dias húmidos. Mas, quando se compreende as massas, fazer pão é mágico. Há algo de primordial no processo de fazer pão. Algo que nos deixa felizes. E quando começamos a fazer pão queremos partilhar essa alegria com os outros.
10 dicas para quem quer começar a fazer pão, em casa, ou para quem já faz e quer melhorar:
1. Ler a receita do princípio ao fim. Já deve ter acontecido a todos, ver a imagem de um pão ou receita com um aspecto maravilhoso e quando se coloca as mãos na massa, percebermos ou que nos falta algum ingrediente, ou que a receita exige técnicas ou equipamentos que não temos. Há receitas de pão que pedem, por exemplo, pré-fermentos feitos de véspera. Ler sempre a receita do princípio ao fim, ver se entenderam tudo - há receitas mais claras do que outras - e só depois, então, partir para a acção.
2. Fazer a mise en place. Ou seja, colocar, na bancada de trabalho, os ingredientes pesados e pela ordem que devem entrar na receita. Termos todos os ingredientes, à mão, ajuda-nos a poupar tempo e é uma forma de não nos esquecermos de nenhum. Imaginem, começarem a fazer uma massa, colocarem a farinha e mais alguns ingredientes e entretanto já não saberem se colocaram o sal ou a levedura seca, por exemplo! Ou então, irem pesar um ingrediente que se aperceberam que falta, quando já começaram a amassar! Assim com tudo disposto e organizado é muito mais fácil.
3. Usar uma balança digital. Estas balanças ao mostrarem o peso, permitem uma maior precisão. Passei a pesar também os líquidos. Se a receita diz 340 ml de água podem colocar 340 g. Para resultados mais consistentes, pesem tudo. Incluindo os ovos, azeite, etc. No entanto, para quantidades muito pequenas, recorro a colheres medidoras.
4. Escolha da levedura. Podem optar por levedura fresca. Encontra-se facilmente à venda nos supermercados em cubos de 25 ou 45 g, guarda-se no frigorífico e dura um mês. Ou por levedura seca, óptima para usar quando fazemos pão que requer pouca quantidade de fermento, ou para os nossos pré-fermentos. Esta levedura, em comparação com a fresca, apresenta uma maior durabilidade. Nas receitas quando se quer converter a levedura fresca para seca, usa-se 1/3 desta última. Ou seja 30 g de levedura fresca corresponde a 10 g de levedura seca. A levedura fresca pode-se congelar, mas como é um ser vivo, à medida que o tempo passa, pode ir perdendo a sua capacidade de fermentação. Ao descongelar, usa-se um pouco mais.
5. Amassar. Podem amassar à mão, usando um
robot de cozinha ou uma batedeira. À mão, para que o glúten se desenvolva, normalmente aconselha-se a que se amasse durante, aproximadamente, 10 minutos. Lembrem-se que podemos amassar de várias maneiras. Hoje em dia, há métodos para amassar baseados em intervalos de descanso das massas, o que se revela menos trabalhoso.
6. Forno. Os fornos, como sabemos, são todos diferentes. É importante conhecermos o nosso forno e se for caso disso, adaptarmos a temperatura ou o tempo de cozedura.
7. Relaxar. Fazer pão não deve ser um factor de
stress. Pelo contrário. Deve ser um momento que nos ajude a descontrair. Há lá coisa melhor do que amassar enquanto se colocam os pensamentos sobre a vida em ordem e se ouve uma música inspiradora que nos faz viajar?! As massas são caprichosas, não vamos fazer o pão perfeito. Há dias, que vai correr muito bem. Há dias em que não vai correr tão bem. Se começarem a fazer pão com uma atitude descontraída, vai ser tudo mais fácil.
8. Escolher as receitas. A escolha das receitas é muito importante. Fazer pão, de uma forma básica, é juntar farinha, sal, água e levedura. Comecem com uma ou duas receitas fáceis. Há medida que ganham confiança, que vão conhecendo as massas e o modo como o vosso forno se comporta, podem então ir arriscando em receitas mais complexas. Por exemplo, pães com maior hidratação, pães com fermentações longas. Fazer pão é um processo e estamos sempre a aprender.
9.Tomar notas. É fundamental tentarmos perceber o que correu bem e o que correu mal. Depois de escolherem, uma ou duas receitas, e de as colocarem em prática podem ir fazendo pequenas alterações. Se fazem um pão de trigo numa semana, na semana seguinte podem fazer um pão de trigo com centeio. Tomem nota da quantidade de farinha usada e da hidratação. Se gostaram do resultado final, tudo bem, senão, identifiquem que alterações querem fazer. Talvez, por exemplo, mudar a percentagem de farinha de centeio usada, porque ficou um pão pesado e não era isso que queriam. Um pão mais hidratado faz alvéolos maiores, há quem goste e há quem não goste. Uma massa mais hidratada pode revelar-se mais difícil a amassar.
10. Persistência. Fazer pão é uma deliciosa aventura. É preciso ir fazendo e não desistir. Quanto mais fizermos, melhor vamos entender os caprichos das massas. Comecem a fazer pão em casa. Insistam. Persistam. Divirtam-se!
Vamos fazer pão?