terça-feira, 28 de junho de 2011

Os vários sabores do café e um pudim


Qual o sabor do café? Já alguma vez pensaram em descrever o sabor do café? Ora tentem lá!

Eu tentei e cheguei a pouco, mais ou menos isto: um sabor amargo torrado viciante, com um aroma delicioso e caramelizado. Às vezes áspero, especialmente quando está torrado demais e que nos obrigada a fazer uma careta de arrepio!

Ler o romance Os Vários Sabores da Vida de Anthony Capella, para mim, foi uma viagem aos vários aromas do café. O romance leva-nos a descobrir a vida de Robert Wallis nos seus diferentes momentos. Jovem, impulsivo, dado aos prazeres boémios da vida. Trabalha com Emily na firma do pai desta, com o intuito de criar um descritor dos vários sabores do café. O objectivo de Mr. Pinker era: «Arranjem-me as palavras que captem ... que uniformizem ... o esquivo sabor do café, para que duas pessoas em partes diferentes do mundo possam telegrafar uma descrição uma à outra, sabendo exactamente o que quer dizer.» Parte para África para plantar café e aí vive uma paixão que o cega de amor. Mais tarde regressa a Londres, onde acaba por encontrar o seu próprio caminho. Mas o que adorei no livro, para além de conhecer Robert, Emily e as suas irmãs, Mr. Pinker, Hector e a escrava Finke foi mesmo descobrir os vários sabores do café.

Pelo livro, o café poderá saber a:

«Porque uma chávena de café bem feito é o começo perfeito de um dia de ócio. O seu aroma é cativante, o seu sabor é doce; contudo, apenas deixa amargura e mágoa. (...) Sorvi mais um gole do café (...). Embora, neste caso - acrescentei -, não pareça saber a nada senão a lama. Talvez um leve ressaibo a damascos podres.»

«O aroma do café atingiu-me como uma lufada de especiarias. Oh, aquele aroma... O edifício continha mais de mil sacos de café e Pinker mantinha os seus grandes torradores de tambor rotativo a trabalhar de dia e de noite. Era um aroma com algo de fazer crescer água na boca e de fazer os olhos aguar, um cheiro tão escuro como o alcatrão a ferver, um perfume amargo, negro cativante que se prendia no fundo da garganta, enchendo as narinas e o cérebro. Um homem podia viciar-se neste cheiro (...)»

Café pode ter um sabor floral, um sabor quase fumado, sabor a ferrugem ... laivos de torrada queimada. Mas continua. Leiam:

«Era como se a própria essência do café estivesse concentrada naquela pequena quantidade de líquido. Cinzas carbonizadas, fumo de lenha e fogos de carvão dançaram-me na língua, prenderam-se-me no fundo da garganta e daí pareceram precipitar-se directamente para o cérebro ... e no entanto, não era acre. A textura era como mel ou melaço e continha uma vaga doçura abiscoitada que persistia, como o chocolate mais negro, como o tabaco. Bebi o café da pequena chávena em duas goladas mas o sabor pareceu intensificar-se e aprofundar-se (...).»

Relacionado com o sabor está também a visão e até o odor:

«Lineu agrupa os cheiros em sete categorias, dependendo das suas propriedades hedónicas, isto é, aprazíveis. Assim, temos Fragrantes, os odores fragrantes, como o açafrão ou a lima-brava; Aramaticos, os aromáticos, como o limão, o anis, a canela e o cravo-da-índia; Ambrosíacos, os ambrosíacos ou cheiros almiscarados; Alliaceous, os odores do alho ou dos bolbos de cebola; Hircinos, os cheiros caprinos, como o queijo, a carne ou a urina; Tetros, os odores fétidos, como excrementos ou nozes; e Nauseosos, os cheiros nauseabundos, como a resina da planta assa-fétida.»

«Todos os cafés, quando considerados atentamente, possuem um vago odor a cebolas assadas: alguns, sem sombra de dúvida, contêm também fuligem, linho lavado ou relva cortada. Alguns desprendem o cheiro frutado e fermentado das maçãs acabadas de descascar, enquanto outros possuem o gosto feculento e acídulo das batatas cruas. Outros evocam mais do que um sabor: descobrimos um café que combinava o aipo com as amoras, outro que aliava o jasmim ao pão de especiarias, um terceiro que conjugava o chocolate com a indefinível fragrância de pepinos frescos e crocantes.»

Para além de ter bebido mais uns quantos cafés, este livro levou-me a fazer receitas com café. O pudim de hoje, foi uma dessas.


Ingredientes:
9 dl de leite
400 g de açúcar
6 g de café solúvel
2 colheres de café expresso
4 ovos
4 gemas
1 pacotinho de açúcar baunilhado (aprox. 7g)
caramelo para barrar as formas


1. Deitar o leite, o açúcar e o café numa caçarola, mexer, e levar ao lume. Deixar ferver um pouco, mexendo regularmente. Apagar o lume.

2. Bater as gemas com os ovos. Juntar em fio ao preparado anterior, mexendo sempre. Continuar a bater durante aproximadamente um minuto para que fique tudo bem misturado. Adicionar o açúcar baunilhado. Mexer.

3. Colocar o pudim numa forma ou em pequenas formas untadas com caramelo. Colocar as formas num tabuleiro com água.

4. Levar ao forno pré-aquecido a 180ºC durante uma hora.

5. Retirar o pudim do forno e do tabuleiro, deixar arrefecer. Para desenformar, passar a lâmina de uma faca pelas paredes das formas e agitar um pouco, para ter a certeza que o pudim se deslocou. Colocar o prato em que o vai servir sobre a forma e volte-a.


Esta receita é do livro Paixão pelo Café de Patricia McCausland-Gallo, que recomenda o uso de 3 colheres de sopa de café solúvel com sabor a amaretto, como não tinha adaptei a quantidade de café.

O pudim resultou muito bem. Fica delicioso e com um travo a café muito agradável.

14 comentários :

saboracasa disse...

pela descrição tenho vontade de ler o livro,uma viagem bem interessante. E bem a influênciou pois os pudins estão com ar convidativo

Gisela disse...

Sei quem os vai adorar, o Luis adora sobremesas de café, tenho que experimentar
Um beijinho

Anónimo disse...

Estou à espera de uma encomenda de café com variedade arábica de sabor achocolatado ...para terminar o livro. E já fiquei com uma grande pancada( excesso de cafeína ) por causa do Robert...

Gostei desse pudim! E do Post... :)
Um beijinho
Under A Fig Tree

Chef Daniel Deywes disse...

Adorei a sua descrição do sabor do café ... acho que a minha é a mesma ...

abraço
Daniel Deywes
http://feitonahora.blogspot.com

Isabel Salvador disse...

Que delicias de pudins amiga,adoro o sabor o café como sempre os teus textos são uma inspiração para mim adoro..bjokinhas

moranguita disse...

este pudim vai fazernsucesso ca em casa
adoramos cafe
beijinhos

Raspas de Laranja disse...

Muito bom!

Picarota disse...

Que delícia! Quando conseguir atinar a fazer caramelo hei-de tentar. Beijinhos

Lume Brando disse...

Fiquei com muita vontade de ler o livro e experimentar os pudins ;-)
Um beijinho
Teresa

Sandra Portugal disse...

Nossa que delícia!!! Viajei nos sabores, odores e na imaginação!!! Obrigada pelo capricho da edição e formatação da postagem! Já estou seguindo o seu blog.
bjs Sandra
http://projetandopessoas.blogspot.com//

Receitas ao Desafio disse...

Gostei muito deste post. Riquíssimo em informação e com um cheirinho penetrante a café. O pudim, de fácil confeção, deve ser de comer e chorar por mais.
Um beijinho
Patrícia

Ramona Alina disse...

Muito interesante, adorei o rezultado final :)
Também estou a seguir o seu blogue:
http://cozinhaderamona.blogspot.com
Um abraço

Tuquinha disse...

Fiquei com água na boca quer pela descrição dos aromas quer pelo pudim.......
Beijo de uma viciada em café... ( vou tentar encontrar o livro para ler...)

Laranjinha disse...

Tuquinha,
muito obrigada. Eu adoro café e ao ler o livro, ainda fiquei com mais vontade de beber café e fazer sobremesas com café! :)

Ramona,
muito obrigada.

Receitas ao Desafio,
o pudim fica muito agradável, com o aroma a café irresistível! :)

Sandra Portugal,
muito obrigada.

Lume Brando,
experimenta. O livro é muito giro e o pudim, fresquinho no dia de calor, é excelente!

Picarota,
mesmo sem saber fazer caramelo é bom! ;)

Raspas de Laranja,
muito obrigada.

Moranguita e Gisela,
experimentem. Fica muito agradável, especialmente para quem adora café.

Bélinha e Daniel,
muito obrigada.

Under a Fig Tree,
café arábica com sabor achocolatado, parece-me excelente! Este livro é um perigo, leva as pessoas a beber mais café! ;)

Sabor a Casa,
o livro vale a pena. É um romance intenso, com encontros e desencontros. E claro, com muito café à mistura.

Um beijinho.