Chegámos a
Lucca, na viagem de férias de Agosto, a meio da manhã de sábado, no dia a seguir de
termos jantado em Pisa. A maior parte das lojas estava fechada, mas nas ruas circulavam muitos turistas. Lucca, como quase todas as cidades italianas, tem um passado histórico rico. Foi fundada pelos
Etruscos, os
Romanos estabeleceram ali uma colónia e, em 1799 foi conquistada por Napoleão. O centro histórico de Lucca está dentro de muralhas.
Depois de um passeio pelas ruas da cidade, de espreitar algumas lojas com pasta fresca à venda, de passar pela
Piazza dell'Anfiteatro, um dos ex-libris da cidade, eis que o estômago começa a dar horas e antes que seja tarde, o melhor é encontrar um restaurante para almoçar.
Nem sempre aquilo que nos parece fácil o é. Nesta nossa viagem a Lucca encontrar o restaurante previamente escolhido revelou-se uma verdadeira saga com tantos caminhos percorridos quase como os episódios da
série de TV Dallas.
Quando visitamos uma cidade, uma das primeiras coisas que procuramos fazer logo é arranjar um mapa para nos conseguirmos orientar. Em Lucca, quando chegámos, o ponto de informação turística estava fechado. Pensámos que estando Lucca dentro de umas muralhas não nos deveria ser difícil encontrar o que quer que fosse. Por isso, andámos de rua em rua à procura do restaurante escolhido para o nosso almoço. Mas estávamos bem enganados. Lucca tem muitas ruas, umas largas, outras bem estreitas e muitas, umas parecidas com as outras, especialmente aos olhos de uma pessoa que ali vai pela primeira vez. É já ali. Afinal não era. Se calhar é para acoli e não era. Mais uma tentativa. E mais outra. Isto tudo com o Ricardo a não querer perguntar indicações - mas porque é que os homens acham sempre que conseguem descobrir um local numa terra estranha sem perguntar aos locais?
Eu já farta de tanto andar e voltar ao mesmo sítio sem encontrar o tão desejado restaurante resolvi meter conversa com um jovem que estava parado com a sua bicicleta, cheio de sacos, em frente a uma loja. Meti conversa em italiano, a frase decorada para perguntar onde é, mas eis que o moço não me entende. Nisto, apercebe-se que sou portuguesa e diz-me que o melhor é falarmos em português, pois de certo que nos iríamos entender muito melhor. Eu, cheia de fome e cansada de andar às voltas, achei que era uma fantástica ideia. E foi assim que conheci o Stefano.
O Stefano esteve um ano em Portugal, na cidade do Porto, a estudar. Para ele, esta foi uma excelente oportunidade para colocar em prática os seus conhecimentos de português. Amavelmente, disponibilizou-se a servir-nos de guia até ao restaurante
Vecchia Trattoria Buralli, situado numa praça pacata, longe da confusão dos turistas. Durante o percurso, Stefano falou-nos de Lucca, das suas noventa igrejas, e é que comum as pessoas perderem-se ali pois há muitas ruas, falou-nos da diferença entre
Portugal e
Itália. Disse-me que cá em Portugal, as pessoas falam com mais calma e que ele gosta imenso disso. Durante o percurso, Stefano ia-nos trauteando algumas das conhecidas óperas de
Puccini e de
Luigi Boccherini, ambos filhos da terra.
Já no restaurante, fizemos os nossos pedidos e para a mesa veio
bruschetta com tomate e outra com
lardo, javali com
polenta, que
já tinha comido, noutra viagem, em
Bolonha, carne de porco assada com batatas, salmão grelhado e pasta com molho de tomate. O vinho escolhido foi Il Selvatico, de
Montecarlo, uma localidade próxima de Lucca. Aqui uma vez mais, achei que o pão que serviram deixou muito a desejar. Achei-o seco e quase sem sal. Bom pão, tínhamos
comido nós em Florença.
Depois do almoço ainda houve tempo para visitar a
Catedral. Uma das coisas curiosas de Lucca é a
torre Guinigi. É uma torre com árvores no topo. Segundo o nosso anfitrião, na altura da construção da torre, como não podia ser mais alta, colocaram árvores, para assim estarem mais perto do céu.
E assim, a falar português saímos de Lucca. A
terra do pai do Pinóquio esperava por nós.