Durante o fim-de-semana por terras do Sotavento Algarvio, fiquei alojada no hotel rural Quinta do Marco. Como já referi em posts anteriores, a iniciativa Paladares ao Sul foi realizada a convite da Associação do Sotavento Algarvio, que procurou dar conhecer a um grupo de bloggers de gastronomia que o Algarve esconde muitas mais riquezas para além da praia.
O hotel é um espaço muito agradável, rodeado de laranjais e muito verde. Todos os quartos têm um nome de uma flor, fruto ou de uma erva aromática, nomeadamente papoilas, jasmim, laranjas, alfazema. O nome do quarto influencia a decoração interior, por isso todos os quartos estão decorados de forma diferente.
O meu quarto, dedicado ao tema papoilas, tinha uma vista magnífica para a piscina e para a zona envolvente. De manhã, antes de sair, deixava-me ficar ali uns minutos a admirar a paisagem, a respirar ar puro e a apreciar a calma e a tranquilidade que todo o verde me transmitia.
Os jardins do hotel estão cheios de flores e de ervas aromáticas. A alfazema em flor destacava-se. Estava linda.
No sábado pela manhã o nosso destino foi um passeio de jipe pela serra algarvia. O grupo foi divido por dois jipes e lá fomos nós, à aventura, guiadas pelo António e pelo Eric da empresa RioSul. Ao longo do percurso pude descobrir um outro Algarve marcado pela paisagem da serra. Os caminhos estreitos e sinuosos, o verde a perder de vista, entre uma paisagem pintada pelas estevas em flor.
Ao longo do percurso o nosso guia Eric foi incansável em explicações. Falou-nos da alfarroba, dos medronheiros e de algumas ervas que encontrámos, especialmente o funcho selvagem, que segundo o nosso guia pode ser usado em chá.
Numa das várias explicações, a determinado momento pergunta-me: queres ter uma amendoeira em casa? Encolhi os ombros e tentei dizer-lhe que era um pouco difícil, mas ele não se demoveu. Mostrou-me uma foto de um vaso com uma pequena planta e disse: "Vês, não é difícil". Perante tamanha evidência, tive que reconhecer que não. Nisto abre um saco, dá-me uma mão cheia de amêndoas com a casca e depois começa a distribuir pelas outras bloggers. Ao mesmo tempo vai explicando como devemos semear a amendoeira. Primeiro temos que demolhar a amêndoa. De seguida, colocá-la quatro semanas no frigorífico, mas sem água. Antes de ser colocada na terra, devemos dar-lhe um toque de maneira a partir parte da casca. Daí a duas semanas deveremos ter uma amendoeira. Senhor Eric, eu vou experimentar esta técnica!
Durante o passeio pela serra algarvia tivemos uma explicação sobre sobreiros e cortiça. Portugal é o maior produtor de cortiça do mundo e os sobreiros estão desde praticamente os primórdios da nação protegidos por legislação nacional. Em termos competitivos, muitas empresas de vinhos começaram, infelizmente, a substituir as rolhas de cortiça por rolhas de plástico. Mas dado que a cortiça é um material com características únicas, leve, é um excelente isolante térmico, entre outras, cada vez mais surgem novas aplicações. É fácil encontrar malas, sapatos, chapéus-de-chuva e até selos feitos com este material tão nobre. Para além da explicação, vimos, também, um exemplo de como se cortam as rolhas na cortiça.
Antes de finalizarmos o nosso safari pelo interior algarvio, parámos no café A Caldeira. Aqui tivemos a possibilidade de ver um alambique e perceber como funcionava. No final provámos a famosa aguardente de medronho. Pela explicação do sr. António, a aguardente deve-se beber de uma só vez, tal como se fazia antigamente para "matar o bicho". Eu segui as indicações sem hesitar. Levei o copo à boca e antes que o bicho fugisse, bebi a aguardente de um só trago! ;)
Alfarroba.
No domingo de manhã visitámos os Viveiros Monterosa, onde fomos amavelmente recebidas pelo senhor Detlev Von Rosen. A nossa visita começou no olival, onde o nosso anfitrião nos apresentou árvores milenares e foi respondendo atentamente às nossas questões. A quinta começou a produzir azeite em 2000 e tem actualmente 20 hectares de olival. Todo o processo de produção de azeite foi estudado cuidadosamente. O senhor Detlev Von Rosen procurou perceber como se produzia azeite na Grécia e em Espanha e, depois aplicou os conhecimentos à sua produção.
Nos Viveiros Monterosa a produção de azeite é biológica. As variedades cultivadas são: maçanilha, cobrançosa, verdeal e picual. As árvores são plantadas com 5 metros entre elas e 7 metros entre linhas. Uma vez por semana e enquanto as oliveiras estão em flor, são pulverizadas com uma bactérica que elimina as larvas que atacam as azeitonas. Percebi também que as azeitonas que caem para o chão são depois comidas no próprio olival por porcos. Utilizam ainda o bagaço (resíduos sólidos) para fertilizarem a terra. A apanha da azeitona é feita manualmente por trabalhadores recrutados localmente.
Outra das coisas importantes nesta cultura, é a poda. A poda é fundamental para que a árvore produza azeitona. Em jeito de brincadeira referiu que em França se costuma dizer: podar até ver o céu, no Algarve - podar até o chapéu do patrão passar, em Trás-os-montes - podar até a andorinha passar. Referiu que fazer azeite é uma arte e que a altura da colheita determina a qualidade do azeite. Percebemos que azeite de boa qualidade nunca é feito com azeitonas muito maduras.
Depois da visita ao olival, tivemos a possibilidade de visitar o lagar que ainda guarda vestígios da presença romana. Ali seguiu-se uma prova de azeites das variedades: maçanilha e cobrançosa. Já há algum tempo que tinha curiosidade em fazer este tipo de prova. O nosso anfitrião colocou um pouco de azeite nos copos e de seguida, explicou-nos que deveríamos segurar o copo com uma mão e tapá-lo com a outra durante uns minutinhos, depois colocar o azeite na boca e de seguida deixar entrar algum ar. Entre provas colocámos uma pedra de sal na língua para limpar o palato.
Para além de nos explicar as diferenças entre azeite virgem, extra-virgem e azeite, o senhor Detlev Von Rosen referiu que em tempos as famílias iam ao lagar comprar o azeite para o ano inteiro e que esse hábito se tem vindo a perder.
Actualmente, o azeite Monterosa só pode ser adquirido online.
Quero deixar aqui um agradecimento especial à Associação Sotavento Algarvio - que custeou todas as despesas - nas pessoas da sua directora executiva Margarida Tomás e da Ana Santos, pelo convite e especialmente pelo modo carinhoso com que nos receberam.
Um beijinho muito especial às outras ilustres convidadas, Ameixinha, Carlota, Helena, Isabel, Mónica e Susana, pela excelente companhia, amizade e boa disposição com que vivemos este fim-de-semana.
Mais sobre este programa:
- Visita ao mercado de Olhão e uma sopa de favas;
- Paladares ao Sul II;
- Sotavento Algarvio - Paladares ao Sul III;
- Do Norte ao Sul!;
- Almendrados do Algarve - Bolinhos de Amêndoa.