A carne de coelho faz parte da nossa tradição gastronómica. Maria de Lourdes Modesto incluiu na sua obra
Cozinha Tradicional Portuguesa, várias receitas com coelho. Em minha casa, o coelho sempre foi uma carne apreciada e servida em muitos momentos em que se reunia a família. Hoje em dia, encontramos facilmente esta carne à venda nos talhos e nos supermercados.
Sobre o coelho e o seu consumo, decidi falar com duas personalidades ligadas à gastronomia portuguesa, por um lado,
Justa Nobre, uma das mais mediáticas
chefs do nosso país, e
Virgílio Nogueiro Gomes, conhecido gastrónomo e autor de vários livros.
Para Justa Nobre, a carne de coelho sempre se consumiu na zona onde cresceu, Trás-os-Montes, era muitas vezes servida como prato de domingo. É uma carne que gosta de cozinhar de diversas maneiras - assada, frita, estufada - e já serviu coelho no seu restaurante
O Nobre.
Aconselha-nos a marinar a carne, uma a duas horas, antes de a cozinharmos. Uma das suas receitas preferidas de coelho, é a que tem no seu livro
Justa Nobre, Cozinha com Paixão, em que o coelho bravo é servido com um arroz de farinheira. Quando era miúda, diz-nos, que adorava massa fina com coelho. A carne de coelho é também servida em dias de festa e se Justa Nobre tivesse que a servir num jantar de Natal, a receita escolhida seria
Coelho à Caçador.
Virgílio Nogueiro Gomes, transmontano, refere que «
o coelho faz parte das nossas tradições gastronómicas, especialmente nas regiões do interior, e até na Ilha de Porto Santo. O coelho foi dos primeiros e mais fáceis animais a ser domesticado. Acresce que é de fácil reprodução. »
Quando pensamos em receitas com carne de coelho o nosso pensamento vai logo para pratos salgados mas a verdade, é que pode ser usado em receitas doces. Virgílio Nogueiro Gomes diz-nos que «
temos um doce em Vila Viçosa cujo creme é engrossado com carne branca de coelho cozida e depois pisada no almofariz. Dá uma consistência mais subtil e sem gosto à farinha. Depois açúcar, gemas de ovo, amêndoa e canela. »
Curiosa, perguntei-lhe se o coelho fazia parte da mesa dos reis, ao que respondeu: «
Não há muita evidência. Há citações em relação à lebre, mas quando havia caça. Em Gil Vicente, aparece coelho em cinco obras, e lebre em duas. »
O coelho era uma carne incluída nas refeições da sua família, em Trás-os-Montes. Refere-nos que «
Sim, havia coelho, mas não era a carne dominante. E depois passou a ser uma referência alimentar de forma preventiva, ou disciplinar, para diminuir o colesterol. Não era uma dieta, mas trazia uma nova qualidade alimentar. Lembro-me de que não havia uma época especial para comer coelho. Confesso que o coelho apetece confecionado no tacho e com muito molho. »
Uma das suas receitas preferidas de coelho, é
À Moda da Bruxa de Valpaços e refere, ainda, que «
há restaurantes de cozinha tradicional que têm confeção habitual de coelho como "O Churrasco" na Rua das Portas de Santo Antão. »
No restaurante, ou em casa, um prato de coelho é muito bem-vindo. Deixo-vos, hoje, uma receita desenvolvida, no âmbito da
campanha europeia de incentivo ao consumo de carne de coelho, e a pensar nos momentos em que juntamos a família à mesa, ou recebemos amigos em casa. Pernas de coelho no forno com laranja e batatas. Deliciosa! Digna da mesa de um rei.