O
Alentejo lembra-me dias longos, rostos queimados pelo sol cheios de sorrisos felizes, casas caiadas de branco com barras de azul luminoso, campos de sobreiros e ovelhas a pastar. O Alentejo cheira a poejos, orégãos e a água fresca das ribeiras. No Alentejo, como escreveu
Florbela Espanca, «Tudo é tranquilo, e casto, e sonhador ... / Olhando esta paisagem que é uma tela / De Deus, eu penso então: onde há pintor, / Onde há artista de saber profundo, / Que possa imaginar coisa mais bela, / Mais delicada e linda neste mundo?!»
No passado sábado rumei para o Alentejo. Estive em Portagem,
Marvão, a cozinhar. O convite foi feito pela
Terrius inserido numa série de eventos com o intuito de promover a cozinha do Alto Alentejo. Para mim foi muito bom voltar a estas terras alentejanas, onde em anos passados leccionei um curso na biblioteca de Portalegre que me deixou muito boas recordações.
A tarde esteve quente, mas não desmotivou a vinda das pessoas ao evento, realizado mesmo junto ao rio Sever e à praia fluvial, e de onde se avistava lá no alto as muralhas de Marvão.
Coube-me a mim, abrir o evento e escolhi fazê-lo com duas entradas. A primeira, tostas de pimento assado com sardinha de conserva e zestes de limão, e a segunda, ovos mexidos com cardos e chouriço. Os
cardos foram uma novidade para mim, nunca tinha experimentado até ao momento de pensar e conceber as receitas a realizar com os produtos
Terrius. Os cardos resultaram muito bem com os ovos mexidos. Achei que era uma entrada com um sabor a campo, dado não só por esta planta como pelos orégãos secos que usei. Descobri no livro
Marvão, À Mesa com a Tradição, cujas autoras também estavam presentes nesta festa, que também se pode fazer sopa de cardos com feijão. A experimentar de certeza!
Depois da minha apresentação seguiram-se outras de vários
chefs de restaurantes da região, em que mostraram as receitas boas que se podem fazer com os cogumelos e castanhas
Terrius e com a excelente carne e enchidos da região.
Das apresentações destaco a do
chef António Nobre, embaixador da
Terrius, que nos presenteou com um delicioso caldo com cogumelos e grão, servido com queijo de Nisa. Caldo que fez sobressair de forma complexa e irresistível o sabor bom das diferentes variedades de cogumelos usados.
Fiz ainda um arroz de cogumelos senderilha, com tomate seco e lascas de queijo de Nisa. Ao ver o catálogo dos produtos
Terrius descobri que encontramos uma grande variedade de cogumelos desidratados, desde senderilha, boletos, trompeta negra até ao morchella. É muito fácil usar cogumelos desidratados. Basta colocá-los em água morna ou fria durante 15 a 20 minutos e depois usar. A água deve ser utilizada na preparação da receita. Neste prato usei também farinha de boletos, o que ajudou a intensificar o sabor a cogumelos do meu arroz.
Fechei este evento, incluído na iniciativa
Sabores do Alto Alentejo na sua Cozinha, com um bolo de farinha de castanha. Após ter demonstrado a receita, o público não se demoveu apesar da hora tardia a que o bolo acabou por ir para o forno. Aguardou pacientemente, entre muita conversa e risos. Só vos digo, que não sobraram vestígios de migalhas para contar a história. Eu fiquei muito contente por ver sorrisos de satisfação em todos os rostos de quem o provou. O bolo foi um verdadeiro sucesso.
Nesta minha visita ao Alentejo fiquei alojada na
Quinta do Barrieiro. Um local mágico e tranquilo, com cheiros a alecrim, estevas e alfazema. Soube tão bem, chegar à noite e olhar para o céu estrelado do alpendre em frente ao nosso quarto, inspirar fundo e sentir apenas uma ligeira aragem a passar pelas folhas das árvores e um silêncio puro de tranquilidade. Os proprietários, são de uma simpatia enorme e fazem-nos sentir em casa. A quinta esconde ainda uma particularidade, à medida que a descobrimos, vamo-nos deparando com variadas esculturas de
Maria Leal da Costa, que nos surpreendem e interpelam.
Muito obrigada à
Terrius por esta oportunidade e pelo modo caloroso com que fui recebida.