No passado sábado participei no evento
#ABC - A Bloggers Conference, num painel constituído também por outros
bloggers nacionais. Foram eles, a Catarina Beato do
Dias de uma princesa, o Filipe Gil do
Correr na Cidade, a Marta Valente do
It's Monday But it's OK!, o
Pedro Rolo Duarte e a Sofia Castro Fernandes do
Às nove no meu blogue. A conversa começou com cada um de nós a explicar as diferentes motivações que nos levaram a criar um blogue, de seguida passámos para questões relacionadas com a exposição que um blogue traz, falando pouco ou muito, acabamos por passar aspectos da nossa vida pessoal e dos que nos rodeiam. Isso traz perigos? - todos achámos que não. Os casos relatados de algumas experiências resultantes dessa exposição foram, até agora, todas positivas.
O que é um blogue de sucesso? Foi uma questão que acabou por gerar vários pontos de vista. Quem cria um blogue é porque quer ser lido, dizia Catarina Beato, e eu concordo. Quando alguém cria um blogue é porque quer partilhar algo - pensamentos, fotografias, receitas, ideias, etc. - e deseja que o que partilha chegue a outras pessoas, aos seus leitores. Os blogues têm revelado diversos talentos, que de outra forma dificilmente seriam (tão) conhecidos e isso é muito positivo.
A blogoesfera tem vindo a mudar. Quando entrei neste mundo, em 2005, os blogues de referência para mim, eram o
Abrupto de Pacheco Pereira, o
Aviz e mais tarde
A Origem das Espécies de Francisco José Viegas,
Miss Pearls de Isabel Goulão e o
Bomba Inteligente de Carla Hilário Quevedo, daqueles que me lembro assim de momento. De cozinha, desta altura, juntamente com o
Cinco Quartos de Laranja, a publicar continuamente, que eu saiba, só restam o
Elvira's Bistrot e o
As Minhas Receitas. No entanto, se uns desapareceram, muitos mais viram a luz do dia. E hoje em dia, há tantos blogues de cozinha em Portugal que, foi sendo impossível ir acompanhando todos os que marcam presença neste mundo virtual. E ainda bem. Eu adoro descobrir blogues de comida portugueses, que trazem coisas novas, que fazem a diferença. Nas outras áreas, penso que deve acontecer o mesmo fenómeno.
O forte crescimento da blogoesfera, em Portugal, trouxe outras questões. Hoje em dia temos blogues pessoais e blogues profissionais. Todos têm o seu espaço. Um dos critérios referidos para o impacto de um blogue é sem dúvida a credibilidade da informação que apresenta, outro a qualidade dos conteúdos (textos, imagens, etc.) que publica, outro ainda o modo como as pessoas se identificam com o que é publicado. Podem ser todos estes aspectos em simultâneo ou apenas um, que leve a que determinado blogue seja lido ou muito lido. Referi também que, que para além destes aspectos, os números são importantes. O número de visitas diárias, o número de páginas vistas e outras estatísticas associadas. Um blogue com 800 visitas diárias tem um impacto diferente de um com 8.000, que é muito diferente de um com 20.000 ou 60.000. Os números valem o que valem, se por um lado fazem diferença, também se sabe que em certos casos, não. O impacto de um blogue ou do
blogger não é linear. Pode até depender de quem o faz, como tem acontecido recentemente com algumas figuras públicas.
Também por isto, os blogues são apetecíveis comercialmente. Sabemos que há
bloggers a viver do trabalho que fazem através do blogue ou que conseguiram mudar de vida potenciados pelo blogue. Os casos conhecidos em Portugal, cingem-se - que eu saiba - ao mundo da moda/
lifestyle. Para muitos
bloggers que querem seguir esse caminho, é um sinal de esperança.
Uma senhora na assistência, dizia-nos que se cansa, quando vai a um blogue e vê publicidade a um produto, visita outro blogue e a mesma publicidade. E naquele dia, mais quatro ou cinco blogues a falar do mesmo produto (ou com o mesmo tipo de passatempo). Curiosamente achava que os
bloggers eram pagos para isso. A verdade, é que a grande maioria dos blogues não recebe dinheiro pela publicidade que faz.
Quem quer viver do trabalho que faz no blogue não pode fugir da relação com as marcas e com a publicidade. Mesmo aqueles que podem não ter essa ambição acabam por ter publicidade. Os
bloggers são convidados para eventos diversos. Muitos desses convites são aceites, porque efetivamente são interessantes, há oportunidades únicas e é normal que se queira partilhar com os leitores. É inevitável fazer publicidade. Ao falar de um
workshop, uma visita a uma quinta, a ida a uma fábrica, etc., ou nem que seja publicar no
Facebook a foto de um produto que se acabou de receber. Já fui visitar restaurantes, já comprei livros, já adquiri produtos, já visitei lojas porque houve
bloggers que me os deram a conhecer ou os referiram. Eu própria o faço aqui no
Cinco Quartos de Laranja. Gosto de falar das minhas viagens, de visitar e falar de restaurantes, gosto de dar a conhecer novos produtos, gosto de partilhar com os leitores algumas experiências que tenho tido e de expressar a minha opinião sobre elas e cada vez mais gosto de desenvolver receitas para marcas, o que tem sido um verdadeiro desafio e que desejo muito continuar. Dar ideias de locais a visitar, dar sugestões de como usar alguns produtos em receitas. E como disse na conferência, sinto-me completamente apaixonada pelo trabalho que faço com o
Cinco Quartos de Laranja. O investimento e a satisfação são tão grandes, que afinal descobrimos o que nos faz verdadeiramente feliz e gostaríamos de o continuar a fazer. Mas sem retorno financeiro, é muito difícil, para não dizer impossível.
De uma forma ou outra, a publicidade é incontornável e tudo depende do que se pretende com o blogue. Penso que é importante gerir de forma equilibrada a relação com as marcas. É importante que a publicidade esteja de acordo com a linha editorial do blogue e com os valores que o
blogger deseje comunicar. Mas cada
blogger sabe de si e do projecto que queira seguir.
A questão
bloggers versus jornalistas foi também debatida. Os
bloggers são muitas vezes tratados como jornalistas, mas a verdade é que estamos presente dois perfis diferentes. Um jornalista segue um código deontológico com algumas regras bem precisas do que pode e não pode fazer. O
blogger não. Neste aspecto referi, que para mim, os jornalistas da área de comida são uma referência. Gosto de ler, crítica gastronómica e isso faço-o procurando o que os jornais ou revistas publicam. Os
bloggers têm um espaço e os jornalistas outro, e penso que até se podem complementar.
Uma das últimas questões prendia-se sobre o que é que cada um dos
bloggers oradores achava que o seu blogue se distinguia dos restantes da sua área. Em relação ao
Cinco Quartos de Laranja, aquilo que eu quero que os leitores encontrem aqui sempre que me visitam é uma mesa posta, onde nos podemos sentar e conversar sobre a vida, sobre filmes, sobre livros, sobre comida, restaurantes, viagens, sobre tudo o que nos possa ajudar a sermos felizes. Espero que quem me visita leve um sorriso de satisfação e um pensamento positivo. E que cada receita, seja um bocadinho de felicidade que ajude a fazer muitos sorrisos, seja com ou sem publicidade.
Da parte da tarde, assisti ao
workshop de
web design da Cláudia Casal, fotógrafa, web designer e autora do blogue
A Place for Twiggs.
O bom deste dia, para além de tudo o que aprendi, foi conhecer e conviver com outros
bloggers. Profissionais ou não, quem tem um blogue encontra sempre algo em comum. Eu adorei conhecer algumas pessoas que só via no mundo virtual e de conhecer outras que me levaram a descobrir blogues muito bonitos e que fiquei com vontade de acompanhar.
Muitos parabéns aos organizadores desta iniciativa, a
Ana Dias, a
Marta Valente e o
André Casado. Que venham mais encontros e debates sobre a blogoesfera, para todos podermos aprender e evoluir.