Qual o sabor do café? Já alguma vez pensaram em descrever o sabor do café? Ora tentem lá!
Eu tentei e cheguei a pouco, mais ou menos isto: um sabor amargo torrado viciante, com um aroma delicioso e caramelizado. Às vezes áspero, especialmente quando está torrado demais e que nos obrigada a fazer uma careta de arrepio!
Ler o romance Os Vários Sabores da Vida de Anthony Capella, para mim, foi uma viagem aos vários aromas do café. O romance leva-nos a descobrir a vida de Robert Wallis nos seus diferentes momentos. Jovem, impulsivo, dado aos prazeres boémios da vida. Trabalha com Emily na firma do pai desta, com o intuito de criar um descritor dos vários sabores do café. O objectivo de Mr. Pinker era: «Arranjem-me as palavras que captem ... que uniformizem ... o esquivo sabor do café, para que duas pessoas em partes diferentes do mundo possam telegrafar uma descrição uma à outra, sabendo exactamente o que quer dizer.» Parte para África para plantar café e aí vive uma paixão que o cega de amor. Mais tarde regressa a Londres, onde acaba por encontrar o seu próprio caminho. Mas o que adorei no livro, para além de conhecer Robert, Emily e as suas irmãs, Mr. Pinker, Hector e a escrava Finke foi mesmo descobrir os vários sabores do café.
Pelo livro, o café poderá saber a:
«Porque uma chávena de café bem feito é o começo perfeito de um dia de ócio. O seu aroma é cativante, o seu sabor é doce; contudo, apenas deixa amargura e mágoa. (...) Sorvi mais um gole do café (...). Embora, neste caso - acrescentei -, não pareça saber a nada senão a lama. Talvez um leve ressaibo a damascos podres.»
«O aroma do café atingiu-me como uma lufada de especiarias. Oh, aquele aroma... O edifício continha mais de mil sacos de café e Pinker mantinha os seus grandes torradores de tambor rotativo a trabalhar de dia e de noite. Era um aroma com algo de fazer crescer água na boca e de fazer os olhos aguar, um cheiro tão escuro como o alcatrão a ferver, um perfume amargo, negro cativante que se prendia no fundo da garganta, enchendo as narinas e o cérebro. Um homem podia viciar-se neste cheiro (...)»
Café pode ter um sabor floral, um sabor quase fumado, sabor a ferrugem ... laivos de torrada queimada. Mas continua. Leiam:
«Era como se a própria essência do café estivesse concentrada naquela pequena quantidade de líquido. Cinzas carbonizadas, fumo de lenha e fogos de carvão dançaram-me na língua, prenderam-se-me no fundo da garganta e daí pareceram precipitar-se directamente para o cérebro ... e no entanto, não era acre. A textura era como mel ou melaço e continha uma vaga doçura abiscoitada que persistia, como o chocolate mais negro, como o tabaco. Bebi o café da pequena chávena em duas goladas mas o sabor pareceu intensificar-se e aprofundar-se (...).»
Relacionado com o sabor está também a visão e até o odor:
«Lineu agrupa os cheiros em sete categorias, dependendo das suas propriedades hedónicas, isto é, aprazíveis. Assim, temos Fragrantes, os odores fragrantes, como o açafrão ou a lima-brava; Aramaticos, os aromáticos, como o limão, o anis, a canela e o cravo-da-índia; Ambrosíacos, os ambrosíacos ou cheiros almiscarados; Alliaceous, os odores do alho ou dos bolbos de cebola; Hircinos, os cheiros caprinos, como o queijo, a carne ou a urina; Tetros, os odores fétidos, como excrementos ou nozes; e Nauseosos, os cheiros nauseabundos, como a resina da planta assa-fétida.»
«Todos os cafés, quando considerados atentamente, possuem um vago odor a cebolas assadas: alguns, sem sombra de dúvida, contêm também fuligem, linho lavado ou relva cortada. Alguns desprendem o cheiro frutado e fermentado das maçãs acabadas de descascar, enquanto outros possuem o gosto feculento e acídulo das batatas cruas. Outros evocam mais do que um sabor: descobrimos um café que combinava o aipo com as amoras, outro que aliava o jasmim ao pão de especiarias, um terceiro que conjugava o chocolate com a indefinível fragrância de pepinos frescos e crocantes.»
Para além de ter bebido mais uns quantos cafés, este livro levou-me a fazer receitas com café. O pudim de hoje, foi uma dessas.
Ingredientes:
9 dl de leite
400 g de açúcar
6 g de café solúvel
2 colheres de café expresso
4 ovos
4 gemas
1 pacotinho de açúcar baunilhado (aprox. 7g)
caramelo para barrar as formas
1. Deitar o leite, o açúcar e o café numa caçarola, mexer, e levar ao lume. Deixar ferver um pouco, mexendo regularmente. Apagar o lume.
2. Bater as gemas com os ovos. Juntar em fio ao preparado anterior, mexendo sempre. Continuar a bater durante aproximadamente um minuto para que fique tudo bem misturado. Adicionar o açúcar baunilhado. Mexer.
3. Colocar o pudim numa forma ou em pequenas formas untadas com caramelo. Colocar as formas num tabuleiro com água.
4. Levar ao forno pré-aquecido a 180ºC durante uma hora.
5. Retirar o pudim do forno e do tabuleiro, deixar arrefecer. Para desenformar, passar a lâmina de uma faca pelas paredes das formas e agitar um pouco, para ter a certeza que o pudim se deslocou. Colocar o prato em que o vai servir sobre a forma e volte-a.
Esta receita é do livro Paixão pelo Café de Patricia McCausland-Gallo, que recomenda o uso de 3 colheres de sopa de café solúvel com sabor a amaretto, como não tinha adaptei a quantidade de café.
O pudim resultou muito bem. Fica delicioso e com um travo a café muito agradável.
14 comentários :
pela descrição tenho vontade de ler o livro,uma viagem bem interessante. E bem a influênciou pois os pudins estão com ar convidativo
Sei quem os vai adorar, o Luis adora sobremesas de café, tenho que experimentar
Um beijinho
Estou à espera de uma encomenda de café com variedade arábica de sabor achocolatado ...para terminar o livro. E já fiquei com uma grande pancada( excesso de cafeína ) por causa do Robert...
Gostei desse pudim! E do Post... :)
Um beijinho
Under A Fig Tree
Adorei a sua descrição do sabor do café ... acho que a minha é a mesma ...
abraço
Daniel Deywes
http://feitonahora.blogspot.com
Que delicias de pudins amiga,adoro o sabor o café como sempre os teus textos são uma inspiração para mim adoro..bjokinhas
este pudim vai fazernsucesso ca em casa
adoramos cafe
beijinhos
Muito bom!
Que delícia! Quando conseguir atinar a fazer caramelo hei-de tentar. Beijinhos
Fiquei com muita vontade de ler o livro e experimentar os pudins ;-)
Um beijinho
Teresa
Nossa que delícia!!! Viajei nos sabores, odores e na imaginação!!! Obrigada pelo capricho da edição e formatação da postagem! Já estou seguindo o seu blog.
bjs Sandra
http://projetandopessoas.blogspot.com//
Gostei muito deste post. Riquíssimo em informação e com um cheirinho penetrante a café. O pudim, de fácil confeção, deve ser de comer e chorar por mais.
Um beijinho
Patrícia
Muito interesante, adorei o rezultado final :)
Também estou a seguir o seu blogue:
http://cozinhaderamona.blogspot.com
Um abraço
Fiquei com água na boca quer pela descrição dos aromas quer pelo pudim.......
Beijo de uma viciada em café... ( vou tentar encontrar o livro para ler...)
Tuquinha,
muito obrigada. Eu adoro café e ao ler o livro, ainda fiquei com mais vontade de beber café e fazer sobremesas com café! :)
Ramona,
muito obrigada.
Receitas ao Desafio,
o pudim fica muito agradável, com o aroma a café irresistível! :)
Sandra Portugal,
muito obrigada.
Lume Brando,
experimenta. O livro é muito giro e o pudim, fresquinho no dia de calor, é excelente!
Picarota,
mesmo sem saber fazer caramelo é bom! ;)
Raspas de Laranja,
muito obrigada.
Moranguita e Gisela,
experimentem. Fica muito agradável, especialmente para quem adora café.
Bélinha e Daniel,
muito obrigada.
Under a Fig Tree,
café arábica com sabor achocolatado, parece-me excelente! Este livro é um perigo, leva as pessoas a beber mais café! ;)
Sabor a Casa,
o livro vale a pena. É um romance intenso, com encontros e desencontros. E claro, com muito café à mistura.
Um beijinho.
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