terça-feira, 21 de junho de 2011

Voltar a Sevilha


Calor. Apanhei imenso calor. Ao pôr-do-sol, na Andaluzia estavam por volta dos trinta graus centígrados! Mesmo com calor foi bom voltar a Sevilha, agora sem o peso da tradição pascal e a funcionar em pleno. Visitar uma cidade em festa, não nos permite perceber como é que respira, como é o seu pulsar. Agora sim, teria essa oportunidade.

Sevilha é uma cidade com ritmo, com gente, com história e boa comida. Gosto das várias esplanadas que encontramos pela cidade. As esplanadas são reveladoras de como os habitantes se relacionam com o chamado "viver a cidade". A meio da tarde, o calor exige a sombra de uma esplanada, algumas borrifadas com pequenos jactos de gotículas de água que ajudam a refrescar. Sentados na esplanada, o calor pede como uma fera faminta a frescura de uma bebida. Eu não me contentava só com uma. Primeiro optava por uma água com limão e depois por um copo de limonada, que naquele calor, para quem não está habituado, sabiam como água no deserto.


Em Sevilha almoça-se e janta-se tarde, comparativamente com os nossos horários e por isso, os sevilhanos passam muito tempo na rua. Isto sem esquecer a sua hora da siesta, feita normalmente entre as 14h e as 17h00, onde tudo fecha, à exceção de bares, restaurantes e algumas lojas de cadeias internacionais.

Sevilha tem imenso comércio. Lojas e mais lojas, de muitas marcas que por cá e por quase todas as grandes cidades encontramos facilmente. O desafio é procurar e encontrar alguma que seja um pouco diferente. Por isso num dos passeios pelas ruas da cidade voltei a uma lojinha deliciosa de bolinhos e chocolates - La Cure Gourmande - que por cá ainda não vi! As lojas de regalitos estão por todo o lado, anunciadas com referências às Sevilhanas, especialmente aos seus fatos com folhos e bolinhas, os abanicos e as t-shirts com alusões à festa dos touros. Nesta visita, voltei também à Praça de Espanha, onde as andorinhas se fizeram notar, ora cruzando o céu azul, ora chilreando intensamente de uma felicidade quase louca, ao Real Alcazar e tinha intenções de visitar a Catedral, mas encontrava-se encerrada temporariamente. Mais um pretexto para voltar a Sevilha! ;)

Em Sevilha há passeios de charrette. Por várias vezes parei para ver os cavalos com o seu pêlo luzidio. São mesmo bonitos! Ali parados, juntos, entre a Catedral e o Real Alcazar, ou junto à Praça de Espanha, com as charrettes cuidadas, com as rodas pintadas de preto e amarelo, dão um ar ainda mais interessante à cidade.


No sábado foi dia de casamentos em Sevilha. Encontrámos pelos menos cinco. Entre eles, houve uma noiva que me chamou a atenção. O que me prendeu o olhar não foi o vestido, nem o ramo e nem mesmo o véu. De aliança no dedo, sentada junto à berma de uma praça, foi a sua expressão que me fez querer registar a sua imagem. Pelo olhar, pelo rosto não vi indicações de que estivesse a sonhar com o doce encanto da noite de núpcias. E o noivo? Onde estaria? Ali sentada, acendeu um cigarro e bafurada atrás de bafurada, revelou que os seus pensamentos estariam longe daquela praça, longe do encanto de ser princesa por um dia. Em que estaria a pensar esta noiva de olhar caído?


Mas nem só de compras e passeios vive uma pessoa, é importante também escolher os locais para comer. No primeiro dia, optei pela simpática sugestão do Join Nets e fui almoçar ao restaurante Eslava. Quando lá chegámos, estava cheio. Cheio, a abarrotar, como costumamos dizer. Nem ao balcão tínhamos um espacinho. Já eram quase três da tarde e tivemos que esperar por uma mesa isto entre umas canhas, uns pires de tremoços com azeitonas e o barulho cantado dos castelhanos que nos rodeavam.

Mas quando é um bom restaurante a espera vale a pena. Eu antes mesmo de me sentar, dizia que dali já não saía sem comer um apetitoso ovinho sobre um bolo de boletos e vinho caramelizado, que estava constantemente a ser servido. Quando vou a um restaurante gosto de ver o que as outras pessoas pedem, gosto de ver o aspecto dos pratos e aquele ovinho simpático e amoroso não me saía da cabeça. Dito e feito. Foi a primeira tapa que pedi. Eu, o Ricardo e os amigos que nos acompanharam nesta viagem.


Os nuestros hermanos quando se trata de mesa, têm por hábito compartilhar. Um prato, que pode ser uma tapa ou uma ración, vários garfos e assim, acompanhados de uma canha ou um copo de vinho vão comendo, falando alto, rindo. E imbuídos deste espírito de partilha, pedimos para a mesa gaspacho, salmorejo, espetada de carne de boi sobre molho de mel, vieiras sobre creme de algas, peito de pato com pão de queijo e marmelada de laranja. Partilhámos ainda uma tarte de chocolate com essência de laranja e um gelado de torrón com chocolate quente. Depois deste repasto magnífico só apetecia procurar a sombra de uma laranjeira e dormir a sesta! Mas em vez disso, mergulhámos nas ruas estreitas e frescas do bairro de Santa Cruz, a judiaria de Sevilha.


Outra das nossas refeições memoráveis foi no restaurante Robles Placentines. Aqui refastelámo-nos com tortitas de choco fritas, ovos revueltos da matanza, queijo brie frito com creme de framboesa, rollitos robles com mostarda fresca, salada de lagostins, espinafres com grão e delícias de ibérico que estava, nem vos digo! A carne simplesmente maravilhosa, desfazia-se ao mais leve toque do garfo.


Antes de sairmos de Sevilha ainda jantámos no restaurante Taberna Azafrán, perto do hotel onde ficámos e estava cheio. A opção foi tapas e como os sevilhanos fazem tapas de tudo, foi mais uma vez uma excelente oportunidade para provar vários pratos. Aqui pedimos calamares recheados com ovas, polvo ao pimentão La Vera, almôndegas de choco na sua tinta, ventresca de atum ao brandy, bife de porco com bacon e molho diabla, alcachofras recheadas com presunto e ovo, salmão com picadinho de alcaparras, salada de gambas e rolitos de beringela e queijo. Depois do jantar foi obrigatório darmos uma voltinha ao quarteirão!


Nesta visita houve a promessa de visitar o terraço do hotel EME, que se destaca, perto da catedral, por um certo encanto exótico e uma atmosfera luxuosa. Mas o cansaço do final do dia, não nos permitiu fazer jus à nossa vontade. Bem, lá terá de ficar para a próxima!

Nesta visita a Sevilha não descobri nenhum mercado de frutas e legumes, não vi nenhuma tourada. No entanto, fiquei ainda mais enamorada pela cidade do pintor de Las Meninas, das elegantes Carmencitas e dos aspirantes a Don Juan.

12 comentários :

Unknown disse...

Adorei as fotos! E, ao que parece, estava "todo muy rico"!
Beijinho

Anónimo disse...

Oh! q fixe!ultimamente tenho andado com mais vontade de conhecer Espanha,e acho q sei porquê!
essas comidinhas parecem mt apetitosas**

Babette disse...

Uma bela reportagem sobre Sevilha. Quando lá for já sei que post reler ;)
Também acho muita graça encontrar "casamentos" nas cidades que visito. Dizem que dá sorte ver uma noiva. Ora logo 5 o melhor é jogar no totoloto!
Beijo
Babette

Anónimo disse...

Laranjinha,

O titulo não podia ser outro!Voltar a Sevilha.
Maravilhoso Post! Cidade lindíssima e a comida É excelente. Sevilla é inesquecível.

Um grande beijinho : )
Under a Fig Tree

Unknown disse...

Hola!!!
Em primeiro lugar, este post está excelente!!! As fotos, e o texto, as sensações, o pulsar da cidade!! parece-me que Sevilla te capturou ;) eu que vivo aqui há um ano, sinto várias vezes esse pulsar e é uma das coisas que me encanta!
Segundo lugar, adorei que seguisses a minha sugestão do restaurante Eslava, só uma curiosidade, a tapa do ovinho com vinho caramelizado ganhou o 1ºlugar no concurso de tapas de sevilha de 2010!
Em terceiro lugar, um mercado!!!! Tens absolutamente de voltar a Sevilla, o mercado de Triana é muito fixe, eu normalmente vou lá todos os sábados, encontram-se coisas fixes como cominhos e sementes de mostarda, "solomillo iberico" ou "pez espada"(espadarte)!!

Besitos ;)
P.S. - espero que nao te importes de tratar por tu!!

Notas Soltas & Coisas Doces disse...

Olá, Laranjinha!

O post está excelente. Bem escrito e cuidado. As fotografias estão,como sempre, apelativas, lindas e igualmente cuidadas.

Contudo, houve um pormenor que me incomodou que se prende com a fotografia da noiva. Quanto à menção da noiva no texto, achei bem e nada tenho a dizer a não ser que captou e expressou muito bem o momento e o estado de espírito da noiva e está de parabéns. Agora, o blog acaba por ser público. É um espaço de divulgação e por isso gostaria de saber se tem autorização da noiva para publicar a sua fotografia. Se não tem, Laranjinha, talvez fosse seja de considerar em retirá-la. Tenho a certeza de que se não a tem, não foi por mal que a colocou.

É que o que está aqui em causa é a privacidade daquela pessoa que apesar de estar num espaço público está identificada isoladamente (não num grupo em que tal questão talvez já não se colocasse) e num momento dela, privado.

A fotografia está linda e captou muito bem o momento, mas temos que pensar também nestas coisas. A privacidade das pessoas deve ser respeitada.

Peço desculpa, mas acho que a questão é pertinente.

Cumprimentos,

Laranjinha disse...

Notas Soltas & Coisas Doces,

obrigada pelo seu comentário.

Tem razão no que diz e consequentemente procedi à remoção da referida fotografia.


Um beijinho.

Anónimo disse...

É possível viajar pelas ruelas e sabores! Parabéns pela delicadeza no post.

Patrícia Teniz disse...

Que lugar maravilhoso!!! e que comidas!!! É pra lá quero ir também quando eu visitar Portugal!!! Adorei!!!

Sob Nova Direção....
O Blog Travessavazia.blogspot.com está sob nova direção agora... Eu, Patricia Teniz, estarei dividindo segredinhos e receitas deliciosas com você. As receitas continuarão a dar água na boca, para deixar sua travessa vazia!!!
Aguardo sua visita!

ameixa seca disse...

Volver :)
Nunca fui a Sevilha mas já fui a Madrid e Salamanca há alguns anos, ainda o blog não existia. Há quem diga que não se come lá bem, discordo, depende sempre do sítio... tal como aqui em Portugal. Não há boa comida em todos os restaurantes :)

Laranjinha disse...

Retrato a Sépia,
obrigada. Foi uma óptima viagem e desta vez, o tempo ajudou.

Soblushed,
eu tenho andado encantada com o país de nuestros hermanos! Vale a pena.

Babette,
nem imaginas o que me ri com teu comentário! :) Não sabia que encontrar noivas dava sorte. Agora só espero que a sorte venha! ;)

Under a Fig Tree,
é verdade. Sevilha, cidade a ainda tenho que voltar! :)

Join Nets,
muito obrigada mais uma vez pela óptima sugestão. Eu adorei aquele ovinho e saber que foi premiado, ainda fico mais satisfeita com a escolha.
Mercado de Triana, ora parece-me que tenho aqui mais um motivo para voltar a Sevilha. :)

Saborcomletras,
espero que estas publicações ajudem a alimentar o gosto de viajar.

Patrícia,
Sevilha é uma fantástica cidade espanhola. Com imensa vida e óptima comida. Quando visitares Portugal, avisa.

Ameixinha,
é verdade também já encontrei pessoas que dizem que em Espanha não se come bem. Do que conheço, tal como tu, discordo. No entanto, acho que talvez nem toda a gente goste do conceito das tapas.

Um beijinho.

Anónimo disse...

Sevilha é a minha terceira cidade favorita (só ultrapassada por Londres e NY)...Adoro Sevilha, vou lá todos os anos e neste post viajei tanto, tanto que o meu coração bateu mais depressa com a ansiedade que estas 9 semanas passem rapidamente para poder lá estar outra vez!Obrigada :)

http://tempestade-num-copo-de-nada.blogspot.com/