sábado, 19 de abril de 2008

A Cozinha no livro Rio das Flores - conclusão

«(...) "o filé à Oswaldo Aranha", um bife alto, com muito alho, acampanhando arroz brabco, farofa e batata frita "portuguesa" (ou seja, não fosse isso ferir os direitos autorais do chanceler, aquilo que em Lisboa se chamaria "o bife à portuguesa"). (...) havia o Restaurante Rio Minho, onde se podia pareciar a afamada "sopa de peixes e frutos do mar Leão Veloso" (...). No Restaurante Capela, no coração da Lapa, Diogo ia de vez em quando apreciar o inigualável cabrito assado da casa e aos sábados, por vezes, ia comer a feijoada do Bar Luiz (...). Havia outro clássico, que era a Confeitaria Colombo, onde se ia, ao final da tarde, beber um aperitivo e dar dois dedos de conversa. » p. 402 e 403

«(...) estendeu a capa de oleado, uma espécie de gabardina rudimentar, sobre a cabeça, e, metendo a mão ao bolso das calças, sacou um lenço sujo que desenrolou, tirando lá de dentro meio chouriço e um quarto de pão de centeio (...)» p. 414

«(...) o menu do jantar de Natal era sempre o mesmo - canja de peru, com os respectivos miúdos, lascas de cenoura e um fundo de arroz; bacalhau cozido com couves galegas e azeite em abundância, e o peru assado no forno a lenha, recheado com azeitonas, picado de carne e vinho do Porto, acompanhado de batata palha frita. (...) Depois de saciados com bacalhau e peru, alguns, não todos, ainda acompanhavam o padre Júlio no ataque às sobremesas e doces: ananás, queijo de ovelha amanteigado, rabanadas, sonhos, bolo-rei e siricaia.» p. 460 e 461

«O pequeno-almoço de Amparo também era diferente do da "sala": umas torradascom mel, café muito forte e uma maçã roída à mão.» p. 487

«(...) quando se encontrava com os outros caçadores na cozinha do monte e juntos se aqueciam à lareira que ardia no chão, enquanto esperavam pelos ovos mexidos, o queijo fresco da véspera e o pão da fornada da noite, quente e ainda húmido e ligeiramente azedo» p. 515

«[Para o pequeno-almoço na fazenda Águas Claras] (...) mel e queijo branco de Minas, "pão de queijo", mate e carne grelhada no fogo, como era de costume no Rio Grande do Sul, leite quente acabado de ordenhar e um café, negro e espesso, assinalando a contribuição paulista.» p. 549

«(..) Leopoldina, a imperatriz da cozinha, preparara-lhe o seu prato mineiro favorito: frango à caipira com quiabo e angu, mais feijão tropeiro e couve mineira.» p. 607


Gostei de ler este segundo romance de Miguel Sousa Tavares. Fiquei surpreendida com tantas referências gastronómicas no seu livro.

Estas referências ajudam-nos a compreender como é que se vivia nos anos 30 e 40, em Portugal principalmente, mas também no Brasil. Rio das Flores não é um romance sobre culinária. Mas como se costuma dizer, os bons livros são aqueles que permitem múltiplas leituras. Continue a escrever romances, Miguel!

1 comentário :

Anónimo disse...

Este romance do Miguel de Sousa Tavares gerou uma grande polémica quando um outro escritor que é também historiador (salvo erro era Vasco Pulido Valente), em que este acusava o Miguel de ser "aldrabão" e não seguir a verdade histórica porque alguns factos relatados no Rio das Flores não coincidem bem com as datas que o Miguel lhes atribui. Cá para mim, isso não passa de uma grande "dor de cotovelo" e desmerece todo aquele que se diz crítico literário.
Todos sabemos que um Romance é uma ficção e cada um é livre de se exprimir como bem entende.
As referências à gastronomia são muito interessantes e quanto a mim enriquecem o texto por lhe introduzirem perfumes, aromas, sabores,tradições, que de outro modo ficariam desconhecidas dos leitores.
Obrigada por nos ter trazido esta "reflexão" e nos ter despertado para outros Sabores!
Bjs. Bombom