sexta-feira, 18 de março de 2011

Missão Laranjinha: Restaurante A Cadeia Quinhentista e apanha de espargos bravos


Depois de todo o entusiasmo que vivi na manhã de sábado pela Mercearia Gadanha e pelo mercado, eis que a minha anfitriã, Cristina, e o João, seu marido, nos conduzem até uma nova etapa da Missão Laranjinha em Estremoz. O local escolhido para almoçarmos foi o restaurante A Cadeia Quinhentista, no alto da cidade, dentro das muralhas do castelo.

O restaurante está situado num edifício do século XVI, onde funcionou a Cadeia Comarcã de Estremoz. Um local cheio de histórias, muito bem recuperado, não perdendo a identidade. O edifício foi adaptado às suas novas funções com extremo bom gosto. Uma das coisas que me chamou a atenção assim que entrei, foram as cadeiras com as costas inspiradas no gradeamento da prisão. De seguida, subi ao primeiro andar para conhecer a sala de eventos e espreitar a garrafeira, fechada com porta gradeada, de onde sobressaía uma imponente garrafa de Mouchão. O restaurante possui também um bar e uma esplanada, que nos dias quentes de Verão deve ser muito aprazível.

Já sentados e a olhar para a ementa, o senhor João Simões, chefe de sala e dono do restaurante, cumprimentou-nos e na sua inexcedível simpatia explicou-nos um a um os pratos da ementa. Depois de o ouvirmos, ficámos com vontade de experimentar tudo. Não havia nada na ementa que não fosse apelativo. :) Enquanto nos decidíamos, foi-nos servido uma bebida, Kir Royal, azeitonas com raspas de laranja, manteiga e pão alentejano e um amuse-bouche de degustação composto por coelho em redução de vinagre balsâmico e queijo feta com azeite, mel, maracujá e alecrim. Gostei do coelho, mas o feta estava divino, com o sabor do alecrim a sobressair no fim. Aprovadíssimo! Uma das entradas escolhida foi uma salada de favas tenrinhas, cheias de sabor, muito agradáveis. A outra entrada - ai ... ai ... nem vos digo! - foram umas vieiras em concha gratinadas com coentros frescos. Como se costuma dizer, estas vieiras "eram de lamber os dedos"! Que coisa boa! :)

Para regar a nossa refeição escolhemos um tinto Dona Maria de 2007 da casa Júlio Bastos.


Os pratos principais portaram-se todos muito bem. Foram eles, raia do Atlântico corada em azeite com coentros frescos, sela de veado no forno com alecrim e perdiz suada em azeite. A cada prato uma boa surpresa. Bons ingredientes, óptimo aprumo de confecção. A mão da Chef Alice Pola valoriza a cozinha tradicional alentejana dando-lhe uns toques de inovação. Usa os produtos da região, as ervas aromáticas e nas sobremesas responde com a doçaria conventual. Em cada prato há um toque de autor, um pedacinho de magia.


Para sobremesa tivemos pudim de água e fisálias com frutos vermelhos que ajudam a cortar o doce e sopa dourada de Santa Clara, confeccionada com gila, laranja e pão-de-ló muito fofinho. Ambas as sobremesas estão interditas a gulosos! ;)


Antes de terminarmos a refeição ainda nos foram servidos licores, um de bolota, com um agradável e convidativo aroma a avelã, e outro de poejo, que deixava sobressair um delicado travo a mentol, tão característico desta erva. O café foi acompanhado com um interessante bombom de cacau.

Fiquei fã da Chef Alice, que com a sua simpatia, delicadeza e cozinha me conquistaram. A Chef Alice coloca ternura na confecção dos seus pratos. Toda a equipa do restaurante A Cadeia Quinhentista nos recebeu com imenso carinho. Fizeram-nos sentir tão bem ao servirem magnificamente esta refeição. Um obrigado muito especial ao Bruno, ao Miro e à Alexandra pela paciência e pela ajuda na captação de imagens. Este restaurante é um espaço onde a harmonia entre a cozinha e o serviço, funciona na perfeição. Só com muito empenho, dedicação e gosto pelo que se faz, é que se chega a este patamar de qualidade.

Ao entrar no restaurante a Cristina deu-me mais um saquinho de musselina com laranja seca e um bilhete. As palavras eram sobre Estremoz, sobre A Cadeia Quinhentista e acima de tudo sobre a Chef Alice que, costuma disponibilizar o seu tempo para partilha de receitas, para dar dicas sobre pratos e que se sentou connosco no início e no fim da refeição. Assim que saímos do restaurante, voltei a receber mais um saquinho de musselina, o quarto, que dizia por entre as indicações da receita: "É preciso sol para apanhar espargos (...), o sol mostra a sombra do espargo que parecem pauzinhos espetados na terra cor de barro!" Espargos? Saímos do restaurante ao final da tarde. O sol já se começava a esconder mas ainda não era de noite. Um campo com espargos estava à minha espera. Yupi! :)


Quando chegámos a um terreno com oliveiras, foi-me apresentada a esparragueira, a planta que dá o espargo. As primeiras não tinham espargos. Mas depois a Cristina e o João foram encontrando. Chamaram-me para eu ver e explicaram-me como os deveria apanhar. Conseguem imaginar o meu entusiasmo? E quando, eu comecei a descobrir espargos por mim? Fantástico! Uma experiência muito especial. Mais um desejo para 2011 concretizado.

Não vos disse, mas o quarto bilhete deixou-me um pouco nervosa. Naquelas linhas foi-me dito o que iria fazer a seguir na cozinha. Esta história ainda não acaba aqui! ...

12 comentários :

Su m disse...

Que menu fantástico... imagino que tenha sido mesmo de lamber os dedos :)

Susana Antunes disse...

São partilhas como estas que fazem com que este blog seja especial... ;)
E que dia após dia não me canse de aqui voltar....
Sem dúvida Estremoz é um sítio a visitar...
Obrigado por partilhares...
Beijinhos nossos...

Susana Gomes disse...

Além do aspecto fantástico dos pratos, a simpatia com que foste recebida por toda a equipa encheu-me de vontade de conhecer o restaurante! E depois andar por aí à toa a apanhar espargos. :)
Que post tão luminoso! :)
Beijinhos

Vilmara Azevedo disse...

Olá Laranjinha! Moro no Brasil e já fui a Lisboa 2 vezes e amo seu país. Gostaria de dar uma sugestão: ao término de sua jornada, poderia fazer um mapa dos locais visitados, bem como citar os restaurantes que fosses. Desse modo, outros viajantes podem poderiam seguir esse teu maravilhoso e invejável roteiro. Beijão.

joão - flavors and senses disse...

a mim ficou-me o desejo de comer esses espargos...

Sandra G disse...

Que dia tão bem passado!! Os pratos têm um aspecto divinal e andar pelos campos apanhar espargos que espectáculo.
Faz-me lembrar a minha infância/juventude não a apanhar espargos mas outras coisas.

Bjs

Ana disse...

Realmente, é esta riqueza do nosso país que ainda nos aguenta, e blogs tão maravilhosos que conosco vão partilhando. Obrigada!

Moira - Tertúlia de Sabores disse...

Nunca fui a esse restaurante, em Estremoz fico sempre por um fora das muralhas cujo nome se me varreu. Já em relação aos espargos percebo perfeitamente o teu entusiasmo, foi exactamente assim que me senti quando fui aos espargos pela primeira vez. Lá para cima só lá para finais de Abril principio de Maio.
Beijocas e bom fim de semana

Isabel Salvador disse...

Que maravilha amiga contigo temos ido a lugares que nunca podemos ir,obrigada por tudo,bjokinhass

moranguita disse...

bem mas que maravilha que deve ser esse restaurante seduziram-.me as tuas imagens.
bom fim de semana

ameixa seca disse...

Saíste-me uma bela agente secreta :)

Anónimo disse...

Foi um dia maravilhoso!!

Um beijinho

Cristina