quarta-feira, 14 de maio de 2014

Brulhão, uma tradição da Beira Baixa


A cozinha portuguesa é um mundo maravilhoso com tantas coisas boas para descobrir. Cada vez mais tenho curiosidade em perceber algumas das nossas tradições, usar produtos ditos "esquecidos", recuperar muitas coisas boas da nossa cozinha que merecem mais destaque. Foi por isso que aceitei participar num jantar dedicado ao brulhão promovido pelo FestiVales 2014, 5ª edição da Festa da Tradição, da Folia e do Brulhão. Penso que nunca tinha ouvido falar em brulhão. Já tinha experimentado maranhos, bucho recheado que, nas minhas idas a Arganil, trazia algumas vezes, agora brulhão era mesmo uma novidade.

O jantar teve lugar no restaurante Bica, na Lx Factory em Lisboa, e foi confeccionado pelo chef Alexandre Silva. Mas antes de nos sentarmos à mesa tivemos a possibilidade de ver preparar o brulhão.

Primeiro foi colocada a carne de porco cortada num alguidar. De seguida juntaram chouriço picado, cebola, alho, salsa, sal, vinho branco, tomate sem pele e polpa de tomate, colorau, azeite, arroz carolino e as folhas de serpão. As diferenças entre os brulhões e os maranhos, reside na carne usada, que nos maranhos é de cabra ou de ovelha e nas ervas, serpão para o brulhão e hortelã para os maranhos. Depois do recheio preparado, são enchidos e cozidos com linha uns sacos feitos de bucho de cabra ou ovelha, que foram bem lavados e passados por aguardente. Depois de prontos vão para a panela cozer durante uma hora. Existem outras expressões para esta iguaria de Vales do Rio, como brolhão, borulhão, burlhão, burunhão, e todas igualmente válidas.


O serpão é uma espécie de tomilho (Thymus pulegioides) que pode ser usado para aromatizar carnes, entre outros pratos, como o tomilho que usamos normalmente. Dá um sabor fresco aos brulhões. É indispensável, é o que ajuda a definir a personalidade desta iguaria beirã. O serpão comparativamente com o tomilho e com o tomilho limão, tem um cheiro mais intenso, a lembrar o campo, um cheiro a mato.

Para este jantar o chef Alexandre Silva preparou-nos um gaspacho de nêspera com requeijão de Seia, cogumelos, espargos e presunto. Uma combinação que me surpreendeu. A frescura e acidez da nêspera resultou de forma muita agradável com os restantes elementos do prato.


De seguida foi servido a estrela da noite, brulhão com chalotas e puré de beterraba. Um dos primeiros sabores que senti quando levei a primeira garfada da mistura de arroz à boca foi o serpão. Muito bom. Ao conversar com um dos promotores do evento percebi que toda a aldeia de Vales de Rio se envolve para promover esta tradição. Em Fevereiro de cada ano é dado o mote para a grande festa dos brulhões através do cultivo de vasos com serpão que estarão prontos a usar em Maio, altura em que decorre o FestiVales. Uma festa que tem no brulhão a sua iguaria de referência. Quem a quiser provar, pode neste fim-de-semana, de 17 e 18 de Maio, visitar Vales do Rio na bonita região da Covilhã e deliciar-se.

9 comentários :

Suzana disse...

Muito curioso, Isabel. Confesso que desconhecia em absoluto o brulhão. Há de facto uma riqueza na nossa gastronomia que merece ser divulgada e saboreada! ;)

Um beijo*

Unknown disse...

Que bom aspecto fiquei com vontade de provar ;)

Beijinhos
food&emotions
http://fefoodemotions.blogspot.pt

Arcílio José Caldas Neto disse...

Muito interessante conhecer mais a respeito desta rica cozinha.

Monte Alegre Refrigeração e Gourmet disse...

Huumm esse Brulhão parece ser muito saboroso! Riqueza da cozinha!

Abraços,
www.montealegrerefrigeracao.com

Unknown disse...

Peço desculpa mas gostaria de acrescentar o seguinte: Meus pais e meus avós eram do concelho de Vila Nova de Poiares. Sendo aí o "epicentro" da chanfana e brulhões, também há quem lhes chame negalhos, além do afamado bucho recheado... que desde muito nova vi e aprendi a confeccionar. Ora relativamente aos brulhões ou negalhos são cozinhados em caçoilos de barro preto tal e qual como a chanfana e tal e qual com o mesmo tempero. Aproveitam-se as tripas de cabra muito bem lavadas mais uns pedacinhos de presunto e chouriça a rechear conjuntamente com as tripas e fazem-se trouxas que são atadas com tripa ou linha. O resto do tempero é igual à chanfana sem esquecer o serpão a hortelã, alho... Uma delícia!

Jcdsa disse...

A origem dos brulhoes não é dos VALES DO RIO ! São do PESO , terra mesmo ao lado onde antigamente este VALES DO RIO era uma anexe !!
Mas parabéns, eles conseguiram a ter proveta!!

Jcdsa disse...

A origem dos brulhoes não é dos VALES DO RIO ! São do PESO , terra mesmo ao lado onde antigamente este VALES DO RIO era uma anexe !!
Mas parabéns, eles conseguiram a ter proveta!!

Rui Costa disse...

1° o Burlhão não é de todo dos Vales do Rio. 2° é falso que não leve carne de cabra. 3° o Serpão não é a espécie de tomilho mencionada )Thymus pulegioides) 4° o autor foi beber a uma má escola. 5° tomate no Burlhão é de bradar aos céus! Enfim....

Rui Costa disse...

Burlhão nada tem a ver com os negalhos