O relato da participação na IV edição do Lisboa Restaurant Week continua. Na segunda-feira passada, o restaurante escolhido foi o Lust, em Santos-o-Velho, Lisboa. O restaurante fica no primeiro andar de um prédio e quando chegámos fomos encaminhados para uma pequena sala onde aguardámos que o resto do grupo chegasse. À primeira vista, o espaço agradou-me e até reparei nas diferentes garrafas de vodka Absolut em exposição. Acho as garrafas de Absolut muito interessantes e das que estavam em exposição, a forrada a lantejoulas vermelhas destacava-se pela exuberância. Depois do grupo reunido, fomos encaminhados para a sala de refeições que tem vista para o largo Vitorino Damásio. A refeição começou com o que é habitual. O pedido de água natural e vinho, escolhemos o tinto Quinta do Côtto de 2007 e o couvert.
O couvert consistia numa manteiga de hortelã, que nos agradou bastante, patê de grão, azeitonas e pãezinhos com sementes. Bem apresentado. Apetitoso. Mas os pãezinhos estavam molhados! :( Reclamação. Voltam a trazer outros pãezinhos. Comentámos entre nós que o pão era congelado e que deveria ter sido uma pequena falha, mas a manteiga até estava boa, a conversa estava óptima e não ligámos a este pequeno e evidente sinal do tipo de serviço que nos iria esperar durante o jantar.
Entre o couvert e a entrada notámos que o serviço era demorado, muito demorado. Os empregados passavam, até pareciam simpáticos, mas teimavam em não conversar connosco ou até dar-nos uma pequena explicação para tanta demora. Quando chegou a entrada, escolhi cannelloni de açorda de camarão e lima com o seu próprio molho e azeite de coentros, o Ricardo optou por uma salada de espinafres com vinagrette de frutos vermelhos e tosta de queijo de cabra gratinada, sorrimos de contentes. Finalmente! Por breves momentos ficámos felizes. A minha entrada estava excelente, e a do Ricardo, mesmo sem surpresas, não estava mal. Entre a entrada e o prato principal voltámos a notar que o serviço não era demorado, era lento. Mais uma eternidade à espera! Questionámo-nos que talvez ali se praticasse o verdadeiro conceito de Slow Food, começa hoje e acaba amanhã! :)
Quando o prato principal foi servido, a minha amiga Sandra achou por bem dar graças pela comida que estávamos a receber, tal já era o seu desespero. O prato principal escolhido, pela maioria, foi tataki de salmão com sésamo e aromatizado com citrinos, acompanhado de risotto de espinafres e eu, que quis ser diferente, escolhi escalopes de veado e javali acompanhado de puré de batata. O salmão, apesar de quase frio, estava agradável e o risotto de espinafres era óptimo. Os escalopes, estavam um pouco rijos demais, mesmo considerando que os animais fossem de caça.
Depois do prato principal, voltámos a esperar pela sobremesa. Sentámo-nos para jantar por volta das 21h e às 24h estávamos a brindar a um novo dia e ainda não tínhamos a sobremesa. Quando finalmente chegou, veio por fases. Foram servidas primeiro três pessoas e as outras duas esperaram. Esperaram. Em conversa referimos, em tom de brincadeira, que Stephen King começou a escrever livros de terror, de certeza, depois de ter estado num restaurante como este. O serviço era de meter medo.
A sobremesa era tarte tatin de nectarina com gelado de iogurte. O meu prato quando chegou à mesa vinha com uma parte do gelado já derretido, e no que não estava notava-se as palhetas de gelo. A tarte tatin de nectarina era dura, como não consegui parti-la convenientemente, desisti, antes que saísse dali com uma conta no dentista.
Como imaginam, pensámos que no café, não haveria surpresas. Café é café. É difícil errar com os pedidos de café. Pensávamos nós! Dois dos cafés eram descafeínados e como não havia, o empregado de mesa achou por bem tirar uns cafés mais fraquinhos e trazer para a mesa aquilo que parecia uma água suja. Só nos disse desta sua iniciativa, depois de o questionarmos sobre o assunto e lhe pedirmos para trazer outros. Que ousadia!
Um restaurante dito de luxo é a combinação de vários factores, espaço, ambiente, serviço e a comida. No Lust a comida não brilha devido ao serviço desatento, desorganizado e demorado que por lá se faz. Em resumo, uma oportunidade perdida.
Na quarta-feira o restaurante escolhido foi o OPAQ e tivemos o prazer de ter connosco, para além do grupinho já habitual, o Mário. O restaurante está dividido em duas salas, a sala branca, mesas, candeeiros e paredes brancas e outra, para grupos, dominada pelo preto, o que lhe confere um ambiente moderno, cosmopolita.
O couvert consistiu em tostas (de compra!), broa de milho e pasta de azeitona preta. Como amuse-bouche foi-nos servida uma salada de polvo que estava muito agradável.
Para entrada escolhi folhado de polarda do campo num guisado, salada verde, uvas e vinagreta de sultanas. O guisado de polarda estava saboroso, apenas achei o vol-au-vent folhado um pouco seco. O Ricardo escolheu o aveludado de couve-flor, crocante de farinheira de Mação e legumes sauté, que estava muito agradável. Foi a escolha acertada!
Para prato principal escolhi polvo em arroz cremoso e cheiros de coentros. O polvo estava tenro e o arroz cozido no ponto certo. Mas os secretos de porco ibérico sobre migas soltas de grelos, tomate e bacon deixaram-me de olhos arregalados. Primeiro pela apresentação e depois pela confecção. A carne estava saborosa e as migas eram magníficas. O polvo estava muito bom, mas os secretos e as migas estavam ainda melhores.
Para sobremesa o Ricardo escolheu requeijão de Seia, doce de abóbora caseiro, cornflakes e pólen da Serra de Portel que estava agradável. Eu escolhi pêra rouge, areias, espuma de coco, lima e pimenta rosa com redução de Porto. Praticamente o que pedi foi um pêra bêbada. Mas quando achamos que não vamos ser surpreendidos, a vida dá-nos a volta. O modo como a pêra foi servida surpreendeu-me! Pois em vez da pêra inteira, vinha cortada em quatro. A fantástica apresentação modificou o meu conceito de pêra bêbada.
O vinho que acompanhou a nossa refeição foi o tinto Monte da Peceguina de 2009. O Mário chamou-nos a atenção para um simpático desenho no rótulo do vinho. Disse-nos que os rótulos têm desenhos feitos pelos filhos dos proprietários da Herdade da Malhadinha Nova. O deste tinto foi desenhado pela Francisca.
Apesar de algumas pequenas falhas de serviço, imediatamente ultrapassadas pela simpatia, atenção e disponibilidade dos empregados de mesa, o OPAQ é um restaurante a que vale a pena ir.
2 comentários :
Tenho de deixar aqui a frase do Nuno... "Se pedimos descafeinado e trouxeram esta água suja ainda bem que não pedimos sopa.... tinham trazido a água de lavar os pratos" :))) Foi por pouco...;) Valeu-nos a companhia!!!
Beijinhos Grandes,
Carlota
Que delícia de post!!
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