sexta-feira, 23 de maio de 2008

O Cozinheiro do Rei D. João VI

Capa O Cozinheiro do Rei D. João VI

O Cozinheiro do Rei D. João VI é um livro do conhecido chefe de cozinha Hélio Loureiro e chegou às livrarias em meados deste mês. Eu descobri-o, na passada sexta-feira, por mero acaso, na livraria Almedina do Saldanha no expositor das novidades. A capa chamou-me a atenção e quando vi o nome do autor, fiquei bastante surpreendida e curiosa. Pelo que eu sei, um romance de um cozinheiro da nossa praça é coisa rara entre nós.

O livro procura, como é referido pelo autor na introdução, "demonstrar que ontem como hoje a mesa é palco de convívio, de alegria, mas também pode ser local de conspirações. Que ontem como hoje se morre pela ingestão de alimentos". E é sobre este convívio à mesa que nos brinda este livro polvilhado de cheiros e sabores, desde o Minho ao Brasil.

A história anda em volta de António de Vale das Rosas, minhoto, que, em 1805, vai para o Palácio de Mafra servir na cozinha do futuro rei D. João VI. «Colocada a minha pequena e pobre trouxa no quarto, desci até à cozinha. (...) O calor era imenso, o fumo não passava todo pela chaminé enorme, dezenas de pessoas atrapalhavam-se no meio daquela imensa mesa de mármore, esticando massas, forrando tartes e moldes de empadas. Uma outra mesa de pedra, junto ao enorme lar, estava cheia de carnes de açougue, recortadas e talhadas. Num cepo de castanheiro, (...), eram cortadas as carnes, por um carniceiro (...). Debaixo da chaminé no lar, ardia uma fogueira capaz de assar duas vacas inteiras, e a quantidade de panelas e sautés de cobre era tanta que cobriria a nossa casa de Monção duas vezes em altura.

Os gansos, patos, frangos e galinhas, que estavam numa divisória junto à cozinha, faziam um barulho que para os calar havia uma criança que lhes deitava os restos de comida que lhes iam dando as cozinheiras e os moços que ali trabalhavam. Outros animais, faisões e perdizes, já mortos, estavam suspensos em traves e aguardavam a vez de serem cozinhados.

O aroma era intenso, os legumes numa banca onde corria água em abundância deixavam ver a frescura da apanha feita havia pouco tempo, e, em alguidares de barro vermelho, estavam peixes e mariscos vários acabados de chegar da Ericeira.
» p.39 e 40

António com o seu talento para combinar ingredientes e sabores conquista a amizade de D. João, que era um grande apreciador da boa comida. Mais dado a comer do que a beber. Contava-se entre o povo que «(...) D. João gostava tanto de comer que guardava galinhas coradas nos bolsos da sua jaqueta para satisfazer a sua fome insaciável enquanto recebia ministros em audiência.» p. 36

Apesar da amizade que o une ao rei, António ir-se-á envolver numa conspiração contra o seu soberano. Será ele a confeccionar o prato fatal que levará D. João à morte. «O nosso rei não era grande amante de doces. Tentou-se apenas por um leite-creme queimado e uma laranja laminada, salpicada de açúcar e uma pitada de canela e flor de laranjeira ...» p. 194. O doce escondeu o sabor do arsénico, que passado algumas horas começou-se a manifestar.

Este livro está cheio de referências ao mundo dos sabores, dos cheiros, da azáfama das cozinhas e do requinte dos banquetes reais. Quem ler o livro irá descobrir, entre várias referências, a receita de Rojões (com castanhas); perceber o que é Foda à Moda de Monção; salivar com o Bolo de nozes e ovos moles; aprender a fazer a Galinha corada, uma das receitas preferidas do rei; o Lombo de vaca com geleia; o Doce de figos (com pétalas de rosa); o Pudim de café; os Papos-de-Anjo com Abacaxi; a Língua de Vaca - Sabor de Molho Madeira; a Lampreia; o Leite-creme queimado; o Caldo de galinha; a Sopa de castanhas e perdiz e, por fim os fatais Pastéis de massa tenra de coelho e vitela. Gostava de saber fazer a especialidade de António de Vale das Rosas: as geleias de rosas e violetas, que bem que me soa.

O Cozinheiro do Rei D. João VI é um livro de aromas e sabores, tendo como pano de fundo acontecimentos da nossa história. De muito fácil leitura, torna-se um livro delicioso. Assim que o acabei de ler, fiquei com vontade de correr para a cozinha e experimentar algumas das receitas.

12 comentários :

Marizé disse...

Para quem como eu ama cozinha e literatura, ler esse livro só pode um prazer enorme.
Adorei ficar a conhecer. obrigada.

Bj e bom fim de semana

anna disse...

A Laranjinha já conseguiu motivar-me para ir à caça do livro...
Beijos.

Isabel (pipoka) disse...

Como já te disse, gosto tanto de ler quanto de comer, por isso este livro não me escapa!

Obrigada pela sugestão.

bjs

Migas disse...

Também me pareceu uma sugestão bem interessante mas, terei que aguardar por ir aí para o ver ao vivo. E agora é aguardar que metas mãos à obra. A maioria dos sabores pareceu-me muito bem! :o)

Beijo

Carla disse...

Obrigada pela sugestão! Adorei conhecer este livro, fico a aguardar essas saborosas receitas que me fizeram salivar...

bjs

ameixa seca disse...

Bem... a famosa Foda. Deliciosas essas receitas. Lá vou ter que comprar mais um livro :-)

Fer Guimaraes Rosa disse...

nossa, perdi a oportunidade de trazer esse livro comigo... bom, pelo menos eu conheci o palacio de Mafra, tao lindo! um beijoo,

Nysa disse...

soa tudo muito interessante! fiquei curiosa para dar uma vista de olhos quando estiver em portugal e estou curiosa para ver o que irás cozinhar daí. beijocas

AndreaDomingas disse...

Muito boa sugestão! O livro traz ainda a figura histórica importantíssima para o Brasil!Espero poder um dia encontrá-lo para vender aqui!
Bjs

Leila disse...

Com certeza vou dar um jeito de comprar. estou lendo um livro muito legal sobre o rei dom Joao VI.
beijinhos e obrigado pela dica.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Fiquei com vontade de ler este livro!

Conseguiste despertar-me a curiosidade!