terça-feira, 26 de abril de 2011

Sevilha e a Semana Santa


As férias da Páscoa, este ano, levaram-me até à Andaluzia. O plano original de viagem foi sendo sucessivamente alterado pois nem tudo correu como era suposto.

Saímos de Lisboa na terça-feira ao início da noite com destino a Monte Gordo. Já vos aconteceu irem na auto-estrada a 100 Km/h e ultrapassarem toda a gente? E a 90? Na primeira paragem para tomar café, surgiu a dúvida, estará o velocímetro avariado? Não, que coisa! Páscoa, é fundamental conduzir com prudência. Eu perante uma situação que se avizinha complicada, tenho sempre tendência a olhar para as coisas de forma positiva. No entanto, a ideia do velocímetro avariado foi rápida e definitivamente confirmada quando estávamos a andar e verificámos que o ponteiro estava parado. Bem, antes a 0 Km/h a andar do que parados! ;)

No dia seguinte, entre alugar um carro e almoçar no Américo, o rei do Peixe assado, em Olhão, foi toda a manhã e parte da tarde de quarta-feira. E isto tudo debaixo de uma chuva forte, como se São Pedro estivesse zangado e não desse ouvidos a ninguém. Em Vila Real de Santo António havia ruas alagadas de tanta água que caiu.

A nossa primeira paragem, destas férias, foi na quarta maior cidade de Espanha e capital da Andaluzia. Sevilha, está situada nas margens do rio Gualdaquivir e viu partir do porto de Palos, Cristóvão Colombo à descoberta do Novo Mundo. Nesta cidade, passeamos pela Praça de Espanha, projectada para a Exposição Ibero-Americana de 1929. Construída em tijolo e cerâmica, em forma semicircular, é rematada por uma torre em cada ponta. Ali é possível observar os painéis de azulejaria feitos em honra de muitas localidades espanholas.

A praça possui também um canal que é atravessado por quatro pontes, onde é possível fazer passeios de barco a remos. Mesmo com chuva, não desistimos de ver a Praça. O conjunto arquitectónico é magnífico. Dos painéis de azulejaria, chamou-me a atenção o de Tarragona - percebem porquê?! ;)


Assistimos a alguma da azáfama para a preparação da procissão de sexta-feira Santa. Houve alturas em que o cheiro das laranjeiras em flor, que existem por toda a cidade, se misturava agradavelmente com o cheiro a incenso saído das igrejas. De vez em quando passavam por nós elementos das confrarias, só ali existem mais de cinquenta, e que preparam as procissões. As suas vestes são tão curiosas e ao mesmo tempo misteriosas. Os sevilhanos, pelo que percebi, vivem a Semana Santa de uma forma muito especial. Só mesmo estando lá é que se percebe toda a envolvente, todo o espírito desta festa tradicional. Para terem uma ideia, vi filas enormes de pessoas para entrarem nas igrejas. É comum, as senhoras apresentam-se de forma extremamente elegante, vestidas de preto e com as mantillas que de lhes dão um ar muito distinto. Este ano, devido à chuva a procissão não se realizou, algo que não acontecia há muitos anos.


Em Sevilha, sê sevilhano, portanto fomos tapear. O local escolhido foi o restaurante Pando. Assim que entrámos, percebemos que o restaurante estava cheio de gente da terra, o que nos pareceu logo um bom presságio. Para a nossa refeição escolhemos presunto de porco ibérico alimentado a bolota servido com batatas fritas, flor de alcachofra com camarão, puré de batata com bacalhau e ovo, tosta de beringela, bacalhau pil-pil e salada de anchova. Para sobremesa pedimos lingote de chocolate e um cálice de vinho Pedro Ximénez. As tapas em termos de porções assemelham-se aos nossos petiscos. O presunto dispensava as batatas fritas, na minha opinião. A alcachofra foi uma surpresa, mas o que adorei foi o bacalhau pil-pil, que é preparado num pequeno fogão com um mecanismo que está sempre a agitar o recipiente onde o bacalhau está com o azeite. Para quem como eu não é grande fã de beringela, aquela tosta obrigou-me a reconsiderar.


Ainda tivemos oportunidade de jantar pelo menos duas vezes num pequeno restaurante, Pasaje, onde por cima do balcão estavam filas de presuntos pendurados. Em vários bares e restaurantes foi comum encontrarmos os presuntos curados pendurados, cartazes alusivos à Semana Santa e a touradas. Sempre que via os presuntos pendurados, não resistia a olhar. Os presuntos assim expostos ajudam a criar um ambiente convidativo à comida! :)

Num dos dias experimentámos ali presunto ibérico alimentado a bolota, salada de ovas, salada de anchovas em azeite e segui a sugestão do simpático empregado e comi uma sobremesa típica da semana santa que se assemelha às nossas rabanadas, a torrija. Enquanto jantávamos, na televisão desenrolava-se a final da taça do Rei entre o Real Madrid e o Barcelona. A casa estava cheia e com muita gente a tomar atenção ao jogo. Quando Cristiano Ronaldo marcou o golo que deu a vitória ao Real Madrid, na sala, toda a gente gritou de euforia e bateu palmas. Quase que nos apeteceu dizer: somos portugueses! ;)

Noutro dia, quis experimentar espinafres com grão, anchovas fritas recheadas e bifinhos de porco com roquefort. A conclusão a que chegámos é que em Sevilha, se come muito bem.


A chuva não nos largou e de cada vez que consultávamos a previsão do tempo, mais preocupados ficávamos. Nova alteração de planos. Na quinta-feira ao final do dia, demos por nós a caminho de Jerez de la Frontera.

11 comentários :

Susana disse...

E por um triz não me vieste visitar! Bem perto estiveste... :) Beijinhos!

Caderninho de Receitas disse...

Deve ter sido uma viagem e tanto, a apreciar pelo texto e pelas fotografias. Adorei ler e sentir um cheirinho desse passeio.
Beijinhos grandes

Helena disse...

Bonitos lugares que não visito há alguns anos.
Isso é que foi uma aventura! O Miguel ía adorar que o velocímetro se avariasse...
Beijo

Susana Antunes disse...

Um passeio muito bonito...
E com muita história à mistura...
Pena a chuva não ter deixado sair a procissão... Irias gostar... é mágico viver tudo aquilo...
Sevilha é um sítio maravilhoso para visitar...
Obrigado pela tua partilha...
Beijinhos nossos...

sobremesas de sorvete disse...

Pelas fotos uma viagem e tanto!

Tangerina disse...

Foi pena o tempo :( Gosto mto de Sevilha e vale sempre a pena voltar!

Beijinhos,
Carlota

Moira - Tertúlia de Sabores disse...

Conheço alguém que também gostaria que o velocimetro avariasse ;)
Nunca estive em Sevilha, tem sido uma daquelas viagens adiadas vezes sem conta, mas fiquei com vontade de lá ir, gostei a arquitectura e acho que também vou gostar das comidinhas.
Foi pena estar tão mau tempo.

Catarina Beltrão disse...

De facto Sevilha é uma cidade muito bonita e que emana história por todas as esquinas. Estive lá uns dias no Verão passado e a preocupação não foi a chuva, mas o calor avassalador. Nesta altura do ano, os sevilhanos vivem muito intensa e emotivamente a semana de Páscoa e testemunho isso numa revista espanhola que costumo ler. Mas por toda a descrição que fez, acredito que tenha aproveitado muito bem o seu passeio, independentemente do tempo, e a nível gastronómico também correu muito bem, assim ilustram as fotos.

Susana Gomes disse...

Estive lá em Setembro, quando vim de Caños de Meca. Se soubesse tinha-te recomendado um restaurante fabuloso de tapas, o Dos de Mayo.
Agora do que eu fiquei com saudades mesmo foi do peixinho do Américo! :) :)
Beijnhos

Catarina Beltrão disse...

A vida é cheia de curiosidades. Então não é que nessa revista espanhola que leio semanalmente, e que mencionei no meu primeiro comentário, a edição desta semana trás a receita do Bacalao al pil pil, precisamente por ser tradição na Semana Santa.
Não resisti a fazer um scanner e enviá-la para o seu endereço de e.mail. Espero que goste e possa experimentar em sua casa. Catarina

Anónimo disse...

Bom dia,

Amei o post, posto que caiu como uma luva na minha situação; essa semana vou de carro com meu marido de Lisboa para Sevilla, pelo que pode perceber vocês fizeram este passeio. Será que você poderia me dar uma dicas. Meu email é thathafr@hotmail.com
Desde já obrigada,
att.